domingo, 14 de maio de 2017

Xulapeta e Peidrolina


Xulapeta era uma plus size ativista. Uma das maiores lutadoras pela liberdade do corpo feminino, encarcerados em um padrão de beleza desumano e sem sentido. Desde que começou a ler livros de autoajuda e fazer terapia com uma psicóloga, ela deixou de lado a bulimia e abraçou, com agrado, os sabores prazerosos das comidas carregadas de gordura saturada, sal e carboidratos.

 

Invadiu vários desfiles por ai, gritando a todos a crueldade que aqueles tipos de eventos faziam com a humanidade. Fazia palestras em escolas dizendo às adolescentes que não existe padrão de beleza, que são lindas como são. Rapidamente ela virou referencia na luta contra o mercado da moda.

 

Certo dia Xulapeta entrou em uma lanchonete, aproveitou que as cadeiras de plástico não tinham apoio e juntou duas (uma para cada lado da bunda) e sentou. Pediu os lanches de A a Z e ficou aguardando. Estava escrevendo um texto no celular falando que as mulheres deveriam comer o que lhes fazem feliz, pois a felicidade é o sentido dessa vida e as pessoas devem lhes amar como são.

 

Ao longe ela viu entrando uma mulher super magra. Não a conhecia, mas seu nome era Peidrolina, secretária de um empresário famoso do ramo dos cosméticos. Ela sentou em uma mesa, com uma amiga, e pediu um x-tudo duplo king sive com fritas extras. Seu pedido chegou e ela começou a devorar, como se não houvesse amanhã.

 

Xulapeta olhou pra baixo e viu seus peitos caindo sobre mesa, ocupando metade dela. Olhou para a moça, magra e toda trabalhada na produção, comendo como uma condenada a cadeira elétrica. E refletiu sobre toda a sua vida.

 

Peidrolina estava quase acabando, quando uma grande escuridão abateu sua mesa e, antes que sua amiga falasse alguma coisa, foi golpeada com uma mesa de alumínio na cabeça, tão forte que sofreu um grave traumatismo craniano e morreu ali mesmo.

 

Xulapeta foi presa, mas com a certeza de que sua ideologia não seria superada por uma sequela com distúrbios hormonais belíssima que come tudo e não engorda.

 

Afinal, obesidade é ser feliz.

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