segunda-feira, 16 de julho de 2018

A Estranha do Banco

Hoje tive que sair, para resolver algumas coisas. Diante de tantas tarefas havia uma que me incomodou, só de saber já fiquei estressado e de péssimo humor. Ir na Caixa Econômica é sempre um bom teste de paciência e sanidade, se tiver problemas com algum dos dois você certamente surtará – e já vi casos de pessoas que se esbofetearam naquelas longas e eternas filas dos caixas. Cheguei e, como sempre, lotado. Escolhi a fila com menor pessoas, e comecei a rezar para nenhuma daquelas que lá estavam resolvessem ter um caso amoroso com o caixa eletrônico. Há pessoas assim, infelizmente. Acredito que, se pudessem, abaixariam a calça e começariam e realizar um coito proibido com aqueles aparelhos. Ah! Quanta demora! Conversas triviais, celulares sendo mexidos, pernas balançando, choro de criança, reclamações... Cada pessoa, ali, procurando se envolver de alguma forma para que buscasse alguma áurea superior em busca de sobrevivência. O tumulto, o barulho, o blá blá blá, o fedor, os empurrões, as inconveniências, tudo isso me irrita, suga meu bem estar, minha tranquilidade. Não queria estar ali, queria voltar para casa, para o meu quarto, me empurrar entre meus livros e sumir dessa existência infame. Mas eu a vi. Quem? Desconheço. Uma moça, que nunca havia vido na vida (e provavelmente nunca mais verei) apareceu pelo lado de fora do banco, no meio de tantos outros estranhos querendo entrar no banco. Ela não se diferenciava dos demais. Não, realmente era comum. Um vestido simples, preto, cabelo enrolado, passos lentos, sorriso quase imperceptível. Mas algo nela me chamou atenção. Algo nela a diferenciou dos demais corpos que se amontoavam ali. Uma estranha que prendeu a minha atenção, fez o tempo correr, a fila andar, o coração bater e aquela vontade incomensurável de desejar que o tempo desacelerasse para que eu, um mero espectador, pudesse aprecia-la por alguns segundos mais. Mas a porta giratória engoliu aquela doce criatura, deixando-a viva somente nas minhas lembranças que o tempo devorará. Voltei para a realidade, para o fedor, o barulho, as conversas pífias, a lentidão. Mas agora estava diferente, banhado de paz, calmo, sereno. Tudo graças a uma estranha, uma bela estranha, que nem sei se tem conhecimento do poder oculto que sua alma possui. http://blogdeliriosdarazao.blogspot.com

domingo, 1 de julho de 2018

O Padre sem Cabeça

Ainda me lembro dos tempos em que lá estudava. Na verdade, é bem mais que uma lembrança. Foram tantos anos vivendo naquela escola que ainda consigo ter as mesmas sensações que tinha quando estava lá. Aqueles grandes corredores, vazios, silenciosos e frios. Mesmo com tantas crianças, era possível ouvir os nossos passos ecoando ao caminhar.

Era raro os momentos em que nós, alunos, saiamos das salas em horário de aula, tudo era muito controlado e rígido. O que tornava todas as vezes uma experiência única, e o medo paralisante.
Certa vez eu tive que sair para ir ao banheiro. Caminhei lentamente aquele enorme corredor, olhando suas lajotas, e escutando as poucas vozes que saiam das salas. Após fazer o que tinha que fazer, retornei por onde vim.

No meio do caminho encontrei um garoto, talvez dois anos mais novo do que eu. Estava parado, olhando fixamente o fim do corredor. Passei por ele, curioso, e quando consegui ver seu rosto percebi uma face de medo, de extremo medo. Perguntei se ele estava bem, mas não tive resposta. Resolvi olhar para onde ele estava olhando, e não vi nada.

No fim do corredor só tinha a parede, mesmo estando escuro podíamos ver que não havia nada ali. Olhei para o menino e ele estava chorando silenciosamente, com os olhos fixados para algo que eu não conseguia ver. Aquilo me arrepiou. Perguntei novamente, e ele ficou em silencio. Olhei para o fim do corredor, novamente, e nada vi. Mas comecei a ouvir algo estranho.

No começo achei que fosse algo vindo das salas, mas logo vi que não era. Era como passos. Sim, eram passos. Algo estava caminhando no corredor, e o som ecoando, como sempre faz. Vi algo saindo da escuridão, tornando-se nítido, sólido, como uma sombra ganhando forma humana.

Vi aquela roupa, preta, como um grande vestido. Mas não era um vestido, era algo diferente. Algo brilhava no peito, olhei bem e vi que era uma grande cruz de prata. Aquele homem andava lentamente até nós. Olhei para aqueles pés brancos, dando passos, e vi que havia manchas vermelhas no chão. Tinha medo de olhar para o seu rosto, mas não me contive.

Não havia rosto, boca, olhos, nariz, cabelo. Não havia nada! Não tinha cabeça. O homem não tinha cabeça. A única coisa que havia acima do seu pescoço eram jatos de sangue que espirravam alto. Gritei para o garoto correr, e sair em disparada. Mas ele não me seguiu. Quando olhei para trás vi que aquela coisa estava parada, em frente ao menino, mas acabei tropeçando e cai, bati a cabeça na parede e desmaiei.

Quando acordei na enfermaria contei a história que tinha acontecido, as pessoas sempre se olhavam de forma estranha e diziam que eu havia sonhado, que isso era alucinação por que eu havia batido a minha cabeça por estar correndo no corredor. Mas uma coisa eles nunca me explicaram. Por que naquele mesmo dia uma criança da 1ª série havia desaparecido.

Contratos quebrados.

Absorto, ele fixava sua visão no teto enquanto sentia os delicados dedos dela tateando seu tórax, deleitando-se com os resquícios de prazer ...