sexta-feira, 23 de setembro de 2016

O Poeta e a Musa Morta



Ele entrara no quarto, e ainda pôde ver o IML fechando o zíper do pacote com o corpo dela dentro. Seu rosto estava pálido, com uma paz incomum que só a Morte entende seu sentido. Em um dos cantos sua mãe chorava, tentando ser consolada por seu esposo que também desabava em agonia. O ar estava pesado, não somente pelo suicídio de uma jovem, mas pela cruel angustia de não saberem o motivo de ela ter amarrado seu lindo pescoço em uma corda e tirado sua vida. Mas ele sabia os motivos. Todos diziam que ela era uma jovem feliz, e com um grande futuro. Ele sabia que sorrisos, nos dias de hoje, são somente armaduras. Uma camuflagem eficiente para que ninguém saiba o que realmente está se sentindo. Talvez ele fosse o único que sabia dessa tristeza escondida em juventude, e por isso a amara tanto, mesmo sem nunca ter se declarado. Os homens do instituto passaram do lado dele, com o corpo dela, e não pôde deixar de pensar que se tivesse a presenteado com uma, das tantas poesias que ele escrevera em sua homenagem, talvez ela tivesse encontrado um motivo para viver. Talvez naquele momento, em vez de um corpo jovem morto, sendo colocado dentro de um camburão, houvesse uma moça com a vontade de viver renovada. Acredita-se que foi este o motivo dele virar um escritor assíduo, enviando suas poesias para o mundo em busca de redenção. Procurando corações amargurados que possam reviver seus sonhos graças as linhas e entrelinhas de suas poesias de solidão.

Um Bar Vagabundo

O contraste entre ele e aquele ambiente em que entrara era gritante. Suas roupas de marca impecavelmente passadas a gomo não combinavam com os trajes sujos e gastos dos que ali frequentavam. Seu carro de ultimo modelo brilhava mais do que o normal, perto das paredes monocromáticas e gastas do ambiente. Logo que entrou sua presença foi como um imã para os olhos dos vagabundos, ladrões e prostitutas que ali estavam. A música de longe era a de que estava acostumado a escutar com os seus amigos. Foi até o balcão e pediu uma cerveja para o garçom, que logo o entregou junto com um copo de vidro que acabara de limpar com um pano sujo. Sentou-se à mesa e despejou aquele liquido amarelo claro dentro do copo, e começou a beber, encharcando seus pensamentos com o álcool batizado. Uma das mulheres resolveu se antecipar as outras, e sentou ao lado do homem. Apoiou seu cotovelo na mesa, e pôs o seu queixo deitado na mão esquerda, enquanto a mão direita levava o dedo indicador nos braços daquele sujeito, fazendo uma leve dança de sensualidade, enquanto seus olhos fitavam o Rolex que brilhava em seu pulso.

 

- O que um homem como você está procurando num lugar como esse? – perguntou a mulher que já conhecera e deitara com tantos homens.

 

Ele ingeriu mais um gole da cerveja e vomitou a verdade.

 

- Solidão.
 
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Todos os direitos reservados. Essa obra é puramente ficcional, qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

 

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quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Em Busca

Talvez ela queira me fazer de palhaço. Quem sabe seja essa a verdade. Não seria a primeira vez que uma mulher invadiria a minha vida unicamente para desestabilizar o meu coração solitário. Infelizmente tenho o defeito de atrair mulheres que querem unicamente relacionamentos rasos. Mas como pedir para o mar ser raso? Como pedir para uma ventania entregar uma leve brisa? Como pedir calmaria para uma tempestade revoltosa? Sou feito de emoções, transvestidas de uma carcaça de carne. Sou um velho ônibus que se cansou de ter passageiros. Mulheres indo e vindo, usando o meu coração como passarela para estradas que nem elas mesmas sabem qual seguir. Sou um homem em busca de certezas, encontrando somente corações cheios de dúvidas, medos e angustias. Um homem cansado da solidão produzida por gente em busca de companhia.

Uma Visita

Aqueles olhos castanhos mergulhavam nos pensamentos, resgatando lembranças que se libertavam entre aqueles lindos lábios vermelhos. Ora ou outra ela me olhava, querendo que eu falasse um pouco sobre mim. Mas eu não conseguia. Buscava as palavras, como um homem busca oxigênio ao se afogar. E eu estava me afogando na beleza daquela criatura perfeita. Ficava emudecido, gastando minha energia em captar todos os detalhes desta linda mulher. Queria poder passar toda a noite ali, navegando por aqueles olhos e vendo-os fecharem de sono. Gostaria de poder acordar e vê-los abrir pela manhã, seguidos daquele sorriso cativante. Mas uma simples visita não poderia durar tanto tempo assim. Acabei tendo que partir, mas com a satisfação de que as lembranças seriam pulsadas pelas artérias do coração até chegar ao meu espirito apaixonado.

Contratos quebrados.

Absorto, ele fixava sua visão no teto enquanto sentia os delicados dedos dela tateando seu tórax, deleitando-se com os resquícios de prazer ...