Estava longe de casa, me sentindo em casa. Mas não na vida
que tenho hoje, mas a casa de uma vida que já se foi. Sensações que remetem a
lembranças, que rementem a saudade. Um tanto saudosista andei um pouco por
aquela rua, simples e esquecida, pulsando vida.
Pessoas simples, terra de chão batido, vegetação natural,
crianças de pés descalços brincando. Me vi novamente na minha infância,
enquanto corria pela Justo Chermont procurando ser criança. Sem mascaras,
preocupações e anseios. Somente o desejo de ter mais um dia alegre e feliz.
Apesar da insegurança que aquelas pessoas sofrem
diariamente, aquela rua pulsa vitalidade, amor, carinho, solidariedade. É um
reencontro de uma humanidade que vem se perdendo aos poucos nas áreas nobres de
qualquer cidade que encontramos. Queria despir-me da minha carne adulta e tirar
novamente aquela criança que vive dentro de mim, para se juntar com um grupo de
crianças que corriam livres, ou me unir a outro grupo que havia capturado um
camaleão e estavam fascinados com a façanha e com o animal.
Vejo, ao longe, um pai carregando o filho no ombro. Ele,
feliz. Feliz por estar no alto, vendo tudo e todos de um ângulo diferente.
Feliz por, mesmo sem sandálias e uma roupa da moda, estava junto com o seu pai.
Vi o sorriso daquele genitor. Mesmo vindo cansado do trabalho, muito
provavelmente um trabalho manual pesado, ainda tinha animo e forças para dar
aquele tempo para seu filho.
Estava longe, mas perto de um eu que há muito tempo havia
esquecido. Um lugar distante dos olhos da sociedade, que diariamente nos ensina
a vermos com mais clareza e amor para aqueles que estão do nosso lado. E quem,
hoje em dia, se dispõe a ver a dor do seu vizinho?
Maria do Boi, nome tanto falado por ai por causa da
criminalidade, mas ninguém vê o seu berço de sabedoria e ensinamentos tão
necessários para essa sociedade doente em que vivemos. Espero que você viva, e
sobreviva, para ensinar a mais gerações quais os verdadeiros sentidos da vida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário