terça-feira, 23 de maio de 2017

Um Dia em Breves


Credinanderson resolveu sair à noite, curtir, se divertir, aproveitar a juventude, lacrar, detonar. Mas queria fazer algo diferente do que estava acostumado. Pegou sua motoca e saiu pelas ruas da cidade de Breves. Em menos de quinze minutos já tinha percorrido todos os lugares movimentados da cidade.

 

Queria pegar um cinema, ver uma apresentação teatral, talvez ouvir uma orquestrar, assistir a uma ópera, ver um show instrumental, contemplar algumas obras de arte, rir em um show de humor... Mas não havia nada disso por ali. Então, sem opções, se juntou com uns amigos e foram para um show rotineiro de uma dessas casas com as mesmas músicas que ouve todo dia. Encheu a cara para se animar e preencher o vazio que aquela cidade proporcionava.

 

Chegou em sua casa e nem pôde ir dormir, pois a sua caixa d’água estava vazia e ele tinha que ligar a bomba e ficar puxando a água com a boca para ver se conseguia alguma coisa. Depois de duas horas batalhando, nada. Seria mais um dia sem água para se banhar, lavar a louça e limpar a casa.

 

Sujo, de ressaca, cansado e se lembrando que seu ventilador havia queimado devido as quedas de luz continua na cidade, resolveu ir para um igarapé se refrescar e se espertar – e aproveitar para tirar um pouco a catinga do corpo.

 

Pegou sua motoca e partiu para a estrada, rezando para que o dtran não tivesse fazendo nenhuma blitz, pois ele havia usado o dinheiro do IPVA para comprar alguns remédios para a sua mãe, pois os mesmos estavam em falta no posto de saúde do bairro dela.

 

No caminho pro balneário ele teve que desacelerar por causa dos buracos que havia no asfalto, e nem viu quando um cara saiu do matagal e acertou a testa dele com um pedaço de pau. Depois de algum tempo jogado no chão, inconsciente, apareceu uma viva alma que o viu sangrando e chamou os bombeiros. Demoraram, devido às péssimas condições da estrada, mas chegaram e o levaram para o hospital municipal.

 

Lá ele foi atendido, medicado e constatado uma fratura em seu crânio. Regularam para o regional, o qual só foi aceito no dia seguinte. No regional começou a apresentar convulsões e descobriu que a partir daquele dia teria que tomar carbamazepina pro resto da vida.

 

Recebeu alta e foi para sua casa, chegando lá viu que haviam invadido o lugar e roubado tudo que ele tinha, inclusive o ventilador queimado. Esvaziaram a geladeira e até defecaram no corredor.

 

Desesperado e deprimido, Credinanderson amarrou uma corda na cozinha e se enforcou. Seu corpo foi encontrado dois meses depois, quando a policia foi bater na casa dele em busca da mesada atrasada da sua filha com a Juscréia.

 

No dia seguinte estavam falando que Credinanderson havia se matado por ter levado um chifre da namorada.

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