"As horas vão passando, a madrugada se levanta e mostra o seu rosto. O mundo lá fora dorme, mas o meu mundo permanece acordado. Tudo porque quero aproveitar cada segundo ao seu lado, nem que seja através de mensagens do celular"
quarta-feira, 8 de novembro de 2017
terça-feira, 24 de outubro de 2017
Aquela música depressiva
E mais uma vez
você se vê mergulhado
naquela música depressiva,
pra se afundar
mais ainda
na solidão trivial
de sua existência pífia
você se vê mergulhado
naquela música depressiva,
pra se afundar
mais ainda
na solidão trivial
de sua existência pífia
quinta-feira, 5 de outubro de 2017
terça-feira, 26 de setembro de 2017
O Primeiro Encontro
Gertrudes ainda não acreditava que havia recebido o convite para um encontro de Palomo, um dos rapazes mais cobiçados na sua cidade. Homem alto, forte, bonito, vistoso. Olhar para ele é como estar olhando para o galã das novelas das nove... Ela suspirava ao pensar que logo, logo, estaria pertinho dele. Foi até o quarto, se olhou no espelho. Corpo magro, sem atributos que chamariam muita atenção.
Leitora, nerd, geek, delicada, timída. Seus óculos cobriam grande parte de seu rosto, sua roupa denotava seu estilo de vida. Olhou novamente para o espelho, vendo seu corpo nu e pensou nas mulheres encorpadas dos comerciais de cerveja, sempre cobiçadas por todos os homens em volta. Palomo bebia?
Girou seu corpo, olhou um lado, olhou para outro. Palomo sempre frequentava os melhores lugares da cidade, carregada de gente bonita, comunicativa, que falava de assuntos que ela não entendia. Tirou os óculos e tentou ver seu reflexo no espelho. Soltou os cabelos. Quando foi a ultima vez que passou um creme neles? Os cheirou. Nada mal. Viu seu armário e percebeu que nem creme para pentear tinha.
Palomo sempre tinha as mulheres mais cobiçadas rastejando em seus pés. Será que ela tinha alguma cinta pra apertar a barriga e aparecer alguma cintura? Abriu o guarda-roupa e no meio de pelúcias de personagens da Nintendo, turma do Chaves, personagens da Disney, Angry Birds, e outros, não encontrou nada que pudesse ajudar.
Voltou pra frente do espelho. Palomo... Palomo... Por que será que ele havia a convidado para sair? Trabalhavam há tanto tempo juntos, e ele sempre a tratou normal, falavam sobre qualquer coisa, nunca demonstrou nenhum interesse... Interesse... Qual será o real interesse nesse encontro. Cinéfila, começou a pensar nos filmes de romance juvenis que já havia assistido. Aposta? Alguém havia apostado com ele se sairia comigo. Será que deixaria ser usada assim? Entrou no seu grupo de amigas do Whatsapp. “O que você tem a perder?”, uma perguntou, “Talvez a dignidade”, ela pensou.
Olhou novamente para o espelho, percebeu que já fazia um tempo que não via o sol. Nos finais de semanas, enquanto seus amigos e conhecidos iam para praças, praias, etc, ela ficava em frente ao computador jogando League of Legends, ou se atualizando nas montanhas de séries que acompanhava.
Maquiagem, roupa, como iria aparecer em frente ao Palomo? Era um encontro, não podia ir com os mesmos vestidinhos de menina que ia para o trabalho. Tinha que ser algo diferente. Internet. Resolveu entrar nos sites e pesquisas as coisas que estavam na moda no visual das mulheres. O que era aquilo na sobrancelha da mulher? Carvão?! Viu algumas maquiagens e se lembrou da boneca Annabelle. Riu. Viu algumas roupas e percebeu que não teria coragem de sair com algo que parecia somente um sutiã com uma calcina. Estava complicado seguir as novas tendências das pessoas normais. Olhou para o chão, tinha um enorme estojo de maquiagem disponível, que somente usava quando ia para eventos de Cosplay. “Acho que vou fazer só o básico mesmo”, pensou.
Andou para um lado, andou para o outro. Voltou pra frente do espelho. Nunca havia parado por tanto tempo para ver seu corpo, até porque ela nunca tinha visto nada que lhe chamasse atenção. Sabia que muitas de suas conhecidas ficavam horas admirando seus peitos e bundas compradas em clinicas ou fabricadas em academias. Ela tinha pavor de academias.
Abriu seu guarda-roupa. Calças, camisas, calcinhas e sutiãs voaram até a cama. Por que era tão difícil assim ter um encontro? “Falta de experiência, quem sabe”, pensou. Era tão fácil adentrar em uma área desconhecida nos jogos, mesmo com o receio de que algo horrível lhe aguardasse. Ela não estava correndo risco de vida, então por que tanto medo? Humilhação?! Já não havia sido vacinada disso quando criança, na escola? Que tipo de atitude Palomo poderia tomar que alguém já não tenha feito na sua adolescência?
Vestiu uma calça jeans rasgada nos joelhos, calçou um tênis preto, e resolveu usar uma camisa preta com o símbolo da casa Stark... Esperava que vestir o negro não lhe trouxesse mal agouro. Talvez o norte lhe protegesse como protegeu alguns Stark’s em sua jornada até o momento.
Voltou para o espelho, gostou do que viu, mas não viu alegria em seu rosto. Ela não estava se vestindo para agradar a si, mas para agradar o Palomo. Será que ele iria gostar? Não, claro que não. Um homem que teve mulheres que mais pareciam modelos, usando roupas lindas. Como ele iria achar agradável sentar a mesa com alguém vestido como se tivesse indo pra um ritual de suicídio coletivo?
Olhou para suas roupas, e não se diferiam muito do que estava usando. Suspirou, olhou para o espelho novamente. Que merda! Pegou suas chaves, olhou novamente o seu quarto e todas as coisas espalhadas. Seu computador ligado. Suas roupas por todo o canto. Era ela exatamente daquela forma, e sabia que diferia muito do universo em que o Palomo vivia. Virou as costas para seu quarto, virou as costas para o seu medo, e saiu.
Chegando ao restaurante perguntou a hostess sobre Palomo, ela mostrou e ofereceu que a levasse até ele. Recusou. Foi andando, lentamente, até o rapaz. Ele estava de costas para a entrada, então ela somente ficou apreciando aqueles cabelos louros. Olhou em volta e viu algumas pessoas a olhando, cochichando. Algumas mulheres lhe fuzilavam com os olhos. Sentia que todo o restaurante a censurava por estar ali, invadindo o seu mundo com aquela imagem de si tão diferente do que eles acreditavam ser o normal, o correto.
Toda a sua fragilidade veio à tona, seus medos retornaram mais fortes, violentos, apavorantes. Seus pés pararam, suas mãos tremeram. Ela recuou, quase chorando, e partiu, deixando Palomo para trás sem nenhuma resposta.
Passou-se uma hora depois do ocorrido. Janelas trancadas, luz desligada, fastfood’s espalhados por toda a sala. Gertrudes estava no sofá, encolhida no edredom, revendo a luta do Perdigueiro com Brienne. Olhava, tristonha, para a tv enquanto a Bela de Tarth socava a cara do Sandor Clegane.
Entendia a Brienne. Era uma mulher triste, magoada, assustada, humilhada, sem amor e carinho de ninguém, mas que conseguia se impor no mundo com a sua força e determinação. Duas qualidades que ela não possuía, e sentia inveja da personagem por isso. No primeiro ato de coragem que ela havia tomado, caiu no primeiro obstáculo.
Toc Toc
Alguém havia batido, ela se voltou para a porta, o chaveiro com o boneco do Rick Grimes ainda balançava com as batidas.
- Gê, eu sei que está ai, estou ouvindo o som da televisão. – a voz do outro lado disse.
Com certeza era o Palomo, e isso a assustou, ela ficou uns cinco minutos calada, olhando para a porta que batia insistentemente. Jogou o edredom no chão e olhou a bagunça que estava ali, e pela primeira vez percebeu que o odor do lugar não estava muito agradável. Tentou pegar o máximo de lixo que conseguiu, jogou fora. Abriu as janelas e jogou um Bom Ar no local. Percebeu que as batidas haviam parado. Havia indo embora ou se quietou porque ouviu os sons de seu desespero?
- Ainda estou aqui. – Palomo disse do outro lado, como se adivinhasse seus pensamentos.
Olhou para si e viu que estava com uma camisa três vezes maior que se tamanho, que havia roubado de seu irmão porque amara o desenho do Link que estava nele. Andou até a porta e a abriu. A primeira coisa que veio aos seus olhos foi o sorriso de Palomo.
- Foi difícil achar a sua casa. – ele disse. Ela ficou um tempo olhando para ele, não acreditando no que estava vendo. – Posso entrar? – ele perguntou.
- Ah! Desculpa. É claro, entre. Não repare a bagunça. – ela disse, sem jeito. Ele riu.
- Desculpe os risos. Minha mãe fala assim. “Não repare a bagunça”. Como se a outra pessoa também não fosse bagunceira. – Palomo disse, e riu novamente.
- Me desculpe por... – Gertrudes tentou se explicar.
- Não, relaxe. A Hostess me falou o que havia acontecido e eu meio que entendi o porquê você saiu sem falar comigo, quase chorando. – ele disse, entre sorrisos.
- Não sei como.
- Eu te comprei isso, de presente. – ele estendeu um embrulho. Ela abriu o presente o viu algo que não acreditou. – Você havia me dito que estava louca pra comprar este livro.
Ela olhou o livro. Animais Fantásticos e Onde Habitam. Ela ia contar que já havia comprado, mas quando viu os olhos dele cheios de alegria resolveu guardar para si, percebendo que não era o presente o verdadeiro presente, mas sim o fato dele ter lembrado dela, de um desejo seu, de algo que ela havia dito. Isso tornava aquele exemplar único, especial, querido.
- Por que você quis sair comigo, Palomo? – Ela o questionou. – Somos tão diferentes.
- Olha... – ele sorriu. – Exatamente por você ser diferente que eu gosto de conversar com você. Falamos de assuntos tão legais. Comecei a assistir animes, séries e essas coisas só pra entender melhor e poder conversar com você.
Ela, então, notou o quanto foi idiota. Ela já está tão acostumada a conversar sobre essas coisas, que para ela falar sobre isso é comum e nunca havia parado pra pensar no esforço que Palomo fazia para entender o mundo dela, se encaixar, participar daquilo que ela gostava. Ele sempre demonstrou o interesse nela, mas ela era muito burra pra perceber. E, se ele faz esse esforço, porquê ela também não poderia? Sentiu-se idiota ao lembrar-se do restaurante.
- Me desculpa por ter te dado furo. – ela se lamentou.
- Relaxa, ainda temos tempo de fazer algo legal. – ele disse. – Que tal um cinema?
Ela não estava acreditando que Palomo esta ali, em seu apartamento, dizendo que gostava dela e insistindo que saíssem juntos.
- Vou me arrumar. – e ela saiu.
Voltou com a mesma roupa que havia usado para ir no restaurante. Pegou sua chave e saiu pela porta mas notou que Palomo não a seguiu, mas ficou parado no meio da sala, olhando para ela.
- Você está tão linda. – ele disse, admirado.
Ela corou pelo elogio que nunca recebera na vida, e se sentiu mais idiota ainda por se lembrar de toda a preocupação que havia tido horas antes em seu quarto.
- Vamos. – ela disse.
E ele saiu, segurando a sua mão e fechando a porta.
terça-feira, 29 de agosto de 2017
sexta-feira, 25 de agosto de 2017
sábado, 19 de agosto de 2017
Obras de Nossa História
Você está comigo em todas as minhas produções, em cada
poesia, em cada verso, em cada frase. Está presente em todos os suspiros, nos
minutos de silencio, no cheiro do café, no som do teclado, nos insights, nas
inspirações. Em cada história contada, e nas histórias esquecidas, nas que eu
escrevi e deixei de escrever, nas que amei e odiei, você também está lá. Sua
persistência em se manter ao meu lado, inconsciente, escondida nas entrelinhas,
cravada no coração, é a energia que move meus dedos e me faz escrever. E
escrevo! Escrevo! Escrevo! Enlouqueço sabendo que tu estás nas folhas de
papeis, espalhados pelo quarto, gritando para mim a sua existência. E mesmo que
cada pedaço seu esteja ao alcance de minhas mãos, não lhe encontro e, com isso,
também me perco. E, como homem perdido, encontro mil versões de mim na solidão.
E, como homem solitário, continuo escrevendo, até a morte, a nossa história.
segunda-feira, 14 de agosto de 2017
Aquela Moça Tímida
Ela não sabia lidar muito bem com os meus elogios, e isso me encantava. Imaginava mil maneiras diferentes de poder lhe tirar aquele sorriso tímido, rosto vermelho e um pequeno empurrão no meu ombro. “Para de graça” ela falava, mas eu continuava. Ela afirmava haver somente amizade entre nós dois, mas eu via nos olhos dela o encanto que respondia ao meu olhar apaixonado. Amor não verbalizado, como duas crianças que se gostam e não entendem muito bem o que está acontecendo dentro de si. Infelizmente a vida nos separou sem antes termos a chance de provar aquele amor que crescia entre nós. O tempo passou e aquele sentimento, tão forte, já não mais esquenta o peito. Mas ele está lá, sim, ele está. Em certos momentos o coração dá aquele impulso e o cérebro responde me enviando imagens daquele rosto delicado de mulher e algo, lá no fundo, ainda grita um sentimento confuso e intenso, encarcerado por uma vida ao qual não escolhi. Talvez, um dia, quem saiba, eu tenha novamente a chance de encontrar com ela, de sentir novamente tudo que eu sentia naquela época. Sei que nosso amor é quase impossível de acontecer, mas, somente mais uma vez, gostaria de ver aquela moça tímida se envergonhar com os elogios de um simples homem apaixonado.
domingo, 30 de julho de 2017
sexta-feira, 28 de julho de 2017
Sobre uma Garota No Parque
Diante de uma multidão de transeuntes que transitavam na orla da cidade, ela me chamou a atenção sem nem ao menos querer. Seus cabelos vermelhos ganhavam mais vida com o doce vento nortista, porem seu rosto demonstrava o descontentamento momentâneo por qual ela estava passando. Pés nervosos, olhos que circulavam a tudo e a todos sem se prender a nada ou ninguém, ora ou outra passavam por mim, mas era como se eu não estivesse ali. Em rápidos, porem repetitivos, momentos ela tirava o celular da bolsa para verificar a hora, e bufava sua insatisfação. Apesar da cara fechada ela estava linda. Eu tinha o que fazer, mas parei ali somente para aprecia-la e imaginar quem seria a pessoa que deixaria aquela linda mulher esperando a ponto de tornar uma noite feliz em uma fatídica desilusão. Queria poder ir até ela, puxa-la pela mão e dizer “Venha, vamos nos divertir juntos. Deixe-me conquistar o seu mais saboroso sorriso”, mas não tive tempo para reagir, pois a sua espera se tornou a sua ida quando ela, enfim, desistiu de ficar ali. E quando, por fim, vi suas ultimas mechas vermelhas dobrando a esquina e sumir percebi que, novamente, deixei uma oportunidade se esvair como uma criança aprendendo a beber água com as mãos. E, hoje, somente posso me debruçar na lembrança e imaginar as mil coisas que dois solitários poderiam fazer em uma noite no parque.
quarta-feira, 26 de julho de 2017
terça-feira, 25 de julho de 2017
Dia do Escritor
Pitágoras via o mundo em números,
eu vejo o mundo em letras.
Quantos transeuntes passam, diariamente, por você e nem notas suas faces? Quantas expressões que externam sentimentos e emoções, ou escondem medos e angustias? Quantos sonhos vão sendo elaborados e abandonados enquanto vais para algum lugar? Constantemente você cruza com histórias dos mais variados gêneros, e nem percebes.
Já parou para pensar nos objetos inanimados que rondam sua existência? Pedras, bancos, mesas, postes, portas, janelas... Já refletiu sobre o tanto de histórias que tantos objetos foram capazes de presenciar e, infelizmente, não possuem o dom de poder externar?
Ser escritor e ver o mundo em letras, ser escritor é ver o mundo em historias. Desde o momento em que decidimos usar as palavras como arte o mundo a nossa volta passa por uma intensa metamorfose, tudo se transforma em frases, parágrafos, orações. Enxergamos aquilo que pessoas comuns jamais imaginariam, sentimos emoções que você nem notaria.
Conseguimos olhar para tudo e em tudo ver uma história ser contada. Conseguimos observar o ambiente e ver a história que aquilo pulsa e que deseja ser conhecida. Tudo ganha vida, boca, ouvidos, existência. O escritor mergulha em um mundo “prosopopêico”, e é o responsável em recolher os retalhos dessas histórias e repassar para a humanidade.
Ser escritor não é fácil. Andamos pelo mundo absorvendo os gritos de tudo e de todos que encontramos e, às vezes, isso cansa. Por muitas vezes queremos nos desligar, mas nossa alma não permite e, quando percebemos, uma história é sentida e já estamos com o papel e caneta em mãos para conta-la.
Neste dia especial, gostaria de parabenizar a todos os escritores desse país, em especial aos que estão perto de mim, meus amigos. Todos, sem exceção, possuem uma habilidade singular na escrita e sinto orgulho de tê-los como amigo e possuir a oportunidade de me debruçar sobre suas obras.
Que a tinta e o papel jamais acabem!
segunda-feira, 17 de julho de 2017
O Adultero do Hospital
Dizem que a mentira tem perna curta,
e quando é longa a vida dá um jeito
de quebrar.
Desde que o Homem resolveu seguir alguns preceitos religiosos e viver como monogâmico, em vez de poligâmico, sabemos que a traição conjugal existe. E quando digo “Homem” falo da espécie, e não do gênero masculino. A traição é uma pequena coceira na mente dos seres humanos que, se você der importância, vai aumentando cada vez mais e, ora ou outra, acabam metendo a mão (e o resto do corpo) e acabam coçando. E, a partir dai, a coceira vem cada vez mais forte e a sensação de prazer ao coçar cresce, levando você a querer mais e mais.
Traição é traição, é erro moral para a nossa sociedade (desde que o casal seja de comum acordo no liberalismo sexual). Mas uma coisa é trair esporadicamente com uma pessoa que apareceu de repente, outra é assumir outro compromisso duradouro com uma segunda pessoa... terceira, quarta. Há quem possa discordar que nenhum desses tipos deve ser perdoado, e eu concordo. Mas, convenhamos, que entre um deslize e um segundo namoro/casamento há um abismo de gravidade separando-os. E o perigo de ser descoberto só aumenta.
Certa vez em uma dessas noites de festas pela cidade a paz da urgência de uma pequena cidade foi abalada com a chegada de um rapaz que havia se acidentando. Ao seu lado uma bela moça que estava com ele na festa. Chegou aos ouvidos dos funcionários que aquela moça era sua namorada. Atendido e colocado numa maca em observação lá ele ficou por um tempo.
Outra moça apareceu, desesperada, porque seu namorado havia se acidentado e ela havia recebido ligações de amigos que presenciaram o acidente. Os funcionários, confusos, informaram que só havia chegado um naquela madrugada e disseram-lhe o leito. Logo a historia se espalhou: ele estava com a amante na festa, e nenhuma das duas sabiam da existência da outra.
O homem de duas namoradas (pelo menos era o número que os funcionários sabiam, vai saber se não havia/há mais) recebeu alta e saiu com seus hematomas e dores noite afora, enquanto as duas mulheres se encaminharam para uma praça, sentaram no banco e conversaram até o sol nascer. Sem brigas, puxões de cabelos e gritos. Simplesmente deixaram o rapaz sumir no horizonte do asfalto, noite fria adentro, enquanto conversaram sobre as historias ocultas sobre suas relações com aquele acidentado.
O dia acabou, e começou, com dois namoros baseados em mentiras descobertos e a certeza de que nossas ações e planos são insanas piadas de uma força superior que ainda não entendemos.
Vai arriscar uma poligamia depois dessa história?
sexta-feira, 9 de junho de 2017
Querer
Queria poder voltar ao passado, somente por um dia. Apenas
por mais um dia queria voltar a ter você em minha vida. Ver de novo o seu
olhar, sentir o calor da sua pele, saborear novamente o gosto da sua boca.
Queria que o universo infindável de possibilidades me acordasse de novo ao seu
lado, como tantas vezes o fizemos. Queria ver o sol nascer pela janela ouvindo
a sua leve respiração de mulher adormecida. Queria poder me livrar por um dia
dessa dor de ter lhe perdido e resgatar aquela loucura apaixonante que tínhamos
um pelo outro. Queria poder sair com você sentido sua mão delicada protegida
pela minha, enquanto todos olhavam para nós sentindo inveja do nosso amor.
Queria poder viver tudo isso, por pelo menos mais um dia. Mas, infelizmente,
acordo todos os dias e não é você que está do meu lado. É ela, e somente ela,
que ainda ocupa o seu lugar na minha cama. Aquela que outrora era sua amiga e
que, como uma criatura venenosa, destruiu minha razão. Ainda não sei os motivos
que me fazem a deixar circular por minha
vida. Talvez seja pela grande necessidade que alguém ocupe o vazio que você
deixou. Um vazio imenso e destruidor. Queria saber onde você está, o que anda
fazendo, se está tomando os seus remédios certo. Você sempre se esquecia dos horários
e das dosagens. Mas, são problemas que nunca mais vou poder resolver, porque um
dia eu fui fraco e acabei caindo nas armadilhas de outra mulher. E vou ter que
levar esse sofrimento até o fim.
quinta-feira, 1 de junho de 2017
Breves: O Caos na Segurança e o Desejo Homicida da População
Existe texto neutro? Acreditamos que não. O escritor é um ser em eterna formação e, mais que isso, um ser formador de opinião. Além do mais o ser humano possui uma necessidade incontrolável de formar o outro, transformar o outro naquilo que achamos melhor para a sociedade. Nos obrigamos a tentar convencer as pessoas de que nossas crenças e opiniões são as que melhor se aproximam da verdade.
Porem, mesmo que tenhamos essa necessidade, nem sempre estamos certos. E para sabermos disso, evoluirmos nossa opinião, é preciso, basicamente, de três qualidades: saber respeitar, saber ouvir e possuir autocrítica. Com essas habilidades o individuo vai conseguir ouvir a opinião alheia , compara-la com a sua e, se ver que está errado, aceitar e mudar sua opinião.
Mudar não é pecado e nem vergonha. Afinal, a natureza do homem e mudar-se e mudar o ambiente, e foi assim que chegamos enquanto espécie evoluída até os dias de hoje. Mas, o que vemos hoje em dia é uma terrível mudança nisso. Cada vez mais vemos sujeitos se agarrando em suas opiniões e se fechando nelas, negando qualquer outra premissa que porventura possa ir de encontro com a sua.
Foi preciso iniciar esse texto com essas colocações para poder explanar de uma forma mais segura, e livre da necessidade da neutralidade devido ao receio inicial das ofensas que sofremos ao divulgarmos nossa opinião, para podermos discutir um pouco sobre uma das consequências do aumento da criminalidade: o desejo de vingança.
A grande massa da população brevense é cristã, e como tal adota a ideologia do amor ao próximo e do respeito a vida acima de tudo. Mas, o que vimos no decorrer das ultimas semanas, foi uma sede insaciável da população “de bem” pelo sangue dos criminosos que tiraram a vida de cidadãos por itens supérfluos.
Em conflito com uma guarnição um desses latrocinas foi alvejado e morto, e ao saberem da noticia muitos brevenses comemoram. Houve até quem soltasse fogos de artificio em comemoração a ação da policia (ou seria pela morte do sujeito?). O fato é que tanto nas ruas, quanto nas redes sociais, a população em geral celebrou o fim de uma vida.
Porem, houve um pequeno grupo que se revoltou com a atitude dessa parte da sociedade pregando os conceitos cristãos e os direitos que tal criminoso possuía. E, a partir dai, acabou surgindo pequenas discussões aqui e ali desses dois grupos.
Afinal, esse animo da sociedade é certa ou errada? Se é certa, não sabemos, mas é compreensível. Antes de ser um ser sociável, um ser que vive em grupo, um ser religioso, somos animais. Querendo, ou não, possuímos instintos primitivos, cravados no sistema límbico, que são ativados quando estamos acuados. E como a população brevense estava se sentindo nestes últimos dias?
Bertolt Brecht, na sua genialidade, disse que “Primeiro vem o estomago, depois vem a moral”. Ou seja, quando possuímos necessidades básicas primarias sendo negadas, acabamos tomando comportamento e atitudes que vão no sentido oposto ao que as leis e moral pregam. E a sociedade brevense viu seus direitos a liberdade e a vida sendo negados, chegando ao ponto de desejar a morte desses criminosos, mesmo sabendo que sua religião e a constituição pregam o contrário.
Imagine uma população com problemas de saúde, educação, saneamento básico e sem água de repente se vendo no meio de uma avalanche criminosa? Que atitudes você acha que esse povo iria tomar para com estes homens que estavam tirando a vida de outros?
O caos está lançado, e com ele as consequências na mente de uma geração que está se formando. A única forma que vemos para que possamos retornar aos preceitos religiosos de amor e paz é que as instituições realmente funcionem. Enquanto a população se sentir abandonada e a mercê da sorte, veremos cada vez mais pessoas adotando esse desejo homicida para promover a sobrevivência daqueles que conseguem se manter dentro dos padrões da lei.
Para onde iremos?
Porem, mesmo que tenhamos essa necessidade, nem sempre estamos certos. E para sabermos disso, evoluirmos nossa opinião, é preciso, basicamente, de três qualidades: saber respeitar, saber ouvir e possuir autocrítica. Com essas habilidades o individuo vai conseguir ouvir a opinião alheia , compara-la com a sua e, se ver que está errado, aceitar e mudar sua opinião.
Mudar não é pecado e nem vergonha. Afinal, a natureza do homem e mudar-se e mudar o ambiente, e foi assim que chegamos enquanto espécie evoluída até os dias de hoje. Mas, o que vemos hoje em dia é uma terrível mudança nisso. Cada vez mais vemos sujeitos se agarrando em suas opiniões e se fechando nelas, negando qualquer outra premissa que porventura possa ir de encontro com a sua.
Foi preciso iniciar esse texto com essas colocações para poder explanar de uma forma mais segura, e livre da necessidade da neutralidade devido ao receio inicial das ofensas que sofremos ao divulgarmos nossa opinião, para podermos discutir um pouco sobre uma das consequências do aumento da criminalidade: o desejo de vingança.
A grande massa da população brevense é cristã, e como tal adota a ideologia do amor ao próximo e do respeito a vida acima de tudo. Mas, o que vimos no decorrer das ultimas semanas, foi uma sede insaciável da população “de bem” pelo sangue dos criminosos que tiraram a vida de cidadãos por itens supérfluos.
Em conflito com uma guarnição um desses latrocinas foi alvejado e morto, e ao saberem da noticia muitos brevenses comemoram. Houve até quem soltasse fogos de artificio em comemoração a ação da policia (ou seria pela morte do sujeito?). O fato é que tanto nas ruas, quanto nas redes sociais, a população em geral celebrou o fim de uma vida.
Porem, houve um pequeno grupo que se revoltou com a atitude dessa parte da sociedade pregando os conceitos cristãos e os direitos que tal criminoso possuía. E, a partir dai, acabou surgindo pequenas discussões aqui e ali desses dois grupos.
Afinal, esse animo da sociedade é certa ou errada? Se é certa, não sabemos, mas é compreensível. Antes de ser um ser sociável, um ser que vive em grupo, um ser religioso, somos animais. Querendo, ou não, possuímos instintos primitivos, cravados no sistema límbico, que são ativados quando estamos acuados. E como a população brevense estava se sentindo nestes últimos dias?
Bertolt Brecht, na sua genialidade, disse que “Primeiro vem o estomago, depois vem a moral”. Ou seja, quando possuímos necessidades básicas primarias sendo negadas, acabamos tomando comportamento e atitudes que vão no sentido oposto ao que as leis e moral pregam. E a sociedade brevense viu seus direitos a liberdade e a vida sendo negados, chegando ao ponto de desejar a morte desses criminosos, mesmo sabendo que sua religião e a constituição pregam o contrário.
Imagine uma população com problemas de saúde, educação, saneamento básico e sem água de repente se vendo no meio de uma avalanche criminosa? Que atitudes você acha que esse povo iria tomar para com estes homens que estavam tirando a vida de outros?
O caos está lançado, e com ele as consequências na mente de uma geração que está se formando. A única forma que vemos para que possamos retornar aos preceitos religiosos de amor e paz é que as instituições realmente funcionem. Enquanto a população se sentir abandonada e a mercê da sorte, veremos cada vez mais pessoas adotando esse desejo homicida para promover a sobrevivência daqueles que conseguem se manter dentro dos padrões da lei.
Para onde iremos?
terça-feira, 23 de maio de 2017
Mãos Dadas
Essa noite eu a vi na rua de mãos dadas com um estranho. Não tenho certeza se ela me viu, ou não. Queria que ela tivesse me visto, sentido que nem a distância e aquela visão possuem a capacidade de tirar de mim o amor que lhe sinto. Um sentimento tão bem nutrido é difícil não crescer, se espalhar, germinar. Querer que eu deixe de amá-la é como pedir que eu mate um pedaço de mim, como se solicitasse que suicidasse um pedaço de minha alma. Não sou sadomasoquista, apesar de saber que te amar é me permitir sofrer. Como saber qual o caminho certo se a razão e emoção me chamam em direções completamente opostas? A liberdade que dou pra minha mente me submete a conclusões tão profundas e distintas, que me acomete a indecisão do que fazer com essa paixão. Será que você e esse cara estão juntos, felizes, firmes? Você me esqueceu? Aquele sentimento acabou? Tenho que nutrir esperanças de tê-la novamente em meus braços? Será que, um dia, estaremos novamente andando de mãos dadas por ai? Pensamentos, mil pensamentos, milhões de sonhos e caminhos. Nada é certo ou incerto, somente a certeza de que neste momento há um abismo entre nós e que suas mãos estão acolhidas por outro.
Um Dia em Breves
Credinanderson resolveu sair à noite, curtir, se divertir,
aproveitar a juventude, lacrar, detonar. Mas queria fazer algo diferente do que
estava acostumado. Pegou sua motoca e saiu pelas ruas da cidade de Breves. Em
menos de quinze minutos já tinha percorrido todos os lugares movimentados da
cidade.
Queria pegar um cinema, ver uma apresentação teatral, talvez
ouvir uma orquestrar, assistir a uma ópera, ver um show instrumental,
contemplar algumas obras de arte, rir em um show de humor... Mas não havia nada
disso por ali. Então, sem opções, se juntou com uns amigos e foram para um show
rotineiro de uma dessas casas com as mesmas músicas que ouve todo dia. Encheu a
cara para se animar e preencher o vazio que aquela cidade proporcionava.
Chegou em sua casa e nem pôde ir dormir, pois a sua caixa
d’água estava vazia e ele tinha que ligar a bomba e ficar puxando a água com a
boca para ver se conseguia alguma coisa. Depois de duas horas batalhando, nada.
Seria mais um dia sem água para se banhar, lavar a louça e limpar a casa.
Sujo, de ressaca, cansado e se lembrando que seu ventilador
havia queimado devido as quedas de luz continua na cidade, resolveu ir para um
igarapé se refrescar e se espertar – e aproveitar para tirar um pouco a catinga
do corpo.
Pegou sua motoca e partiu para a estrada, rezando para que o
dtran não tivesse fazendo nenhuma blitz, pois ele havia usado o dinheiro do
IPVA para comprar alguns remédios para a sua mãe, pois os mesmos estavam em
falta no posto de saúde do bairro dela.
No caminho pro balneário ele teve que desacelerar por causa
dos buracos que havia no asfalto, e nem viu quando um cara saiu do matagal e
acertou a testa dele com um pedaço de pau. Depois de algum tempo jogado no
chão, inconsciente, apareceu uma viva alma que o viu sangrando e chamou os
bombeiros. Demoraram, devido às péssimas condições da estrada, mas chegaram e o
levaram para o hospital municipal.
Lá ele foi atendido, medicado e constatado uma fratura em
seu crânio. Regularam para o regional, o qual só foi aceito no dia seguinte. No
regional começou a apresentar convulsões e descobriu que a partir daquele dia
teria que tomar carbamazepina pro resto da vida.
Recebeu alta e foi para sua casa, chegando lá viu que haviam
invadido o lugar e roubado tudo que ele tinha, inclusive o ventilador queimado.
Esvaziaram a geladeira e até defecaram no corredor.
Desesperado e deprimido, Credinanderson amarrou uma corda na
cozinha e se enforcou. Seu corpo foi encontrado dois meses depois, quando a
policia foi bater na casa dele em busca da mesada atrasada da sua filha com a
Juscréia.
No dia seguinte estavam falando que Credinanderson havia se
matado por ter levado um chifre da namorada.
domingo, 14 de maio de 2017
Confissões de Gabe (Um livro em produção)
Dia
04 de Janeiro – Aniversário do primo que não lembro o nome.
Hoje tive
que ir até a casa de uma tia para almoçar, em comemoração ao aniversario do décimo
quarto filho dela. Nem lembro quantos anos o meu primo estava fazendo. Eu nem
lembro o nome dele, para falar a verdade. A titia fez tanta questão de por uma
penca de gente no mundo que acaba ficando difícil lembrar o nome de todos.
Ela é
dessas mulheres que gostam de colocar o nome dos filhos parecidos. Daquele
jeito que faz todo mundo se confundir. É uma confusão da peste. E tenho certeza
que irá me perdoar por não saber o nome do primo aniversariante.
Lenilde, Lenilda, Lenilton,
Lenilsivan, Lenilson, Lenilta, Lenisilcleide, Lenilsileida, Leniscleia,
Lenisilcleiton, Lenilsiléia, Lenisvaldo, Lenisvandro e Lenisluce.
Duvido
alguém ler esses nomes bem rápido.
Pois bem,
tive que ir, então, até essa reunião familiar para dar os parabéns a um dos meus
primos que deve sofrer bulling na escola, devido ao nome, digamos, exótico. Fui
até uma loja e comprei um brinquedo que achei que o fulano iria gostar. Afinal,
ele era o mais novo, ainda criança, então não havia necessidade de comprar um
presente mais elaborado.
Fiquei na
varanda da minha casa olhando o horizonte. Vi quando o sol sumiu atrás dos
prédios e a noite cair trazendo um céu estrelado e uma lua cheia cativante.
Noite maravilhosa para fazer um coito na minha namorada, pena que tinha que ir
até o abatedouro emocional familiar e encarar todo aquele povo.
Então, com
a chegada da noite, e o horário do jantar se aproximando, peguei meu carro e
partir rumo à casa da minha tia, que ficava a poucos minutos de distancia. Ao
me aproximar no local já pude sentir o clima familiar voando no ar, como o
cheiro de um lixão a céu aberto.
Então fechei
a janela do carro.
***
A casa da
minha tia era antiga, um clássico da arquitetura gótica. Exalava todo o ar de
riqueza que seu marido conquistou durante os anos. Estacionei o meu carro um
quarteirão antes de chegar lá. Fiquei observando a imponência daquela
residência e pensando o quanto me sentia pequeno diante de tanto luxo.
Desci do
carro e fui a pé até a casa da titia. Ao me aproximar, a lentos passos, já fui começando
a ouvir o arrocha tocando dentro da casa. Essa era a minha tia. Havia
conseguido enriquecer, mas não deixava de lado a sua origem brega.
Após tocar
a campainha um dos fulanos abriu a porta. Sorriu para mim, mostrando
cordialidade e felicidade por me ver. Infelizmente não foi reciproco, mas
consegui fingir por alguns segundos, mostrando meu mais caloroso sorriso
amarelo.
- Boa noite, meu primo.
Quanto tempo não lhe vejo.
- Pois é. – como era mesmo o
nome dele? – Ultimamente andei muito ocupado com os estudos, trabalho,
namorada. Acabo que não tenho tempo para visitar a família.
- Ainda bem que existem
essas datas comemorativas para reunir a todos. Não acha?
- Santos aniversários. O que
seria de mim sem eles?
Ele riu,
não sei porque. Me convidou para entrar. E eu entrei. Me mostrou o caminho para
a sala onde todos estavam reunidos. E eu fui até lá. Estava agindo como um
cachorrinho guiado pelo dono, com os rabos entre as pernas pelo ambiente
hostil.
- GAAAAAAAABEEEEEEEE!
Eu dei um
pulo e deixei o presente cair. Olhei para ver quem era a louca que estava
gritando alucinadamente - como se estivesse tendo um orgasmo - meu nome. Era a
minha tia.
- Oi Gabe, seu fofo. Quanto
tempo não lhe vejo. Nossa como você está magro. Como está a sua namorada? E o seu
trabalho? O que anda fazendo? Anda se alimentando direito? E a sua mãe? Tem
falado com ela? Nunca mais tive noticias dela. E seu pai? Ainda trabalha
naquela empresa de calçados? Ele melhorou da bronquite? Já perguntei da sua
namorada? Quando vai casar com ela? Já tá na hora da sua mãe ser vó, não acha?
Olha...
Minha boca
ia se abrindo e fechando, tentando responder a metralhadora de perguntas que
era a minha tia, mas ela não deixava um microssegundo disponível para que eu
pudesse pelo menos falar um “cala a boca”. Então a deixei falar. Ela adora
falar. Até que, de repente, ela se calou, deu um sorriso e me levou até o
fulano-aniversariante. Não antes de me fazer passar vergonha, é claro.
- GENTE, OLHA QUEM CHEGOU. O
GABE.
O mundo
parou. Quem estava comendo parou de mastigar. Quem estava conversando parou de
falar. Quem estava dançando parou de dançar. Todos os olhos se viraram para a
minha direção. Minha tia gritou tão alto que eu tive a sensação de que o mundo
parou de rodopiar no universo só pra prestar atenção em mim.
- Que é isso tia, não
precisa exagerar. – sussurrei no ouvido dela.
- DEIXA DE FRESCURA, GABE.
OH LENILDE, LENILDA, LENILTON, LENILSIVAN, LENILSON, LENILTA, LENISILCLEIDE,
LENILSILEIDA, LENISCLEIA, LENISILCLEITON, LENILSILÉIA, LENISVALDO, LENISVANDRO
E LENISLUCE VENHAM CUMPRIMENTAR O PRIMO DE VOCÊS.
Como ela
conseguiu falar esses nomes corretamente e tão rápido?
Os minutos
que se passaram foram cumprimentando todas as mãos e braços abertos que se
dirigiam a mim, tanto dos fulanos, quanto de outros familiares e desconhecidos,
que vieram devido ao escândalo que a titia fez com a minha chegada. Por ultimo
veio o fulano-aniversariante.
- Meus parabéns primo.
Trouxe esse presente pra você.
- Obrigado. Posso te fazer
uma pergunta?
- Claro.
- Você é viado?
- Como é que é?
- Você é gay? Por que meu
irmão Lenisvandro disse que você era um baitola.
Quem era o
Lenisvandro?
- Não, não. Sou
heterossexual. Tenho até namorada.
- O pai de um amigo da
escola se separou da mãe dele pra se casar com o vizinho.
- Puta que... – suspirei –
Pode confiar em mim. Sou homem de verdade.
- Mas você tem jeito de
viado. Tem certeza que não é?
- Tenho. Não sou viado. –
disse, querendo dar uns tapas na cara desse moleque.
- Tudo bem então.
Ele saiu
correndo, olhando para um grupo de amiguinhos, gritando.
- RELAXA PESSOAL, ELE NÃO É
VIADO.
Criança é
um amor, não é?
***
- Oi, gato. – me disse uma
das primas-malucas-que-não-lembro-o-nome.
Ela era
linda, não podia negar. Mas nunca teve a sua consciência no lugar certo. Por
varias vezes, na adolescência, pensei em me aproveitar da tara dela por mim,
mas acabava desistindo por medo do que ela poderia fazer, ou ter.
- Oi, tudo bem?
- Não muito.
- Qual o problema.
- Tô precisando de um
cachorrão, como você, pra tirar o meu atraso.
- Não curto ficar com
primas. – menti.
- Ah Gabe! Deixa de
frescura.
- Quais as novidades?
- Fui demitida.
- Por quê?
- Me pegaram transando com o
contador. – ela hesitou. – Em cima da maquina de xerox.
Ela nunca
foi econômica com as palavras. Muito menos crivava os pensamentos.
- Não precisava entrar em
detalhes.
- A xerox da minha bunda
rodou toda a empresa.
- Detalhes, prima, detalhes
desnecessários.
- Tenho uma xerox da minha
bunda no meu quarto, quer ver?
- Olha...
- Se quiser pode ver ao
vivo. Mais interessante, não acha?
- Acredito que a sua bunda
seja igual às outras tantas por ai.
- Que grosseiro.
- E você é uma tarada.
- Só quando estou perto de
você.
- Olha, tenho namorada. Sou
fiel. Então me desculpe, não iremos fazer sexo hoje.
- Aquela vagabunda deve
meter chifre em você direto.
- Você não a conhece.
- Mas sei que é uma
vagabunda.
- Acha que seria idiota de
estar namorando uma vagabunda.
- Se não me comeu até hoje,
é porque é idiota.
- Nem camisinha eu tenho
aqui. Então esqueça.
Alguma coisa
deveria fazê-la desistir e deixar meu pé em paz.
- Odeio camisinhas.
- Deus me livre. Não quero
pegar gonorreia.
- Não tenho gonorreia. E
mesmo que tivesse qual o problema? Todo mundo pega gonorreia um dia.
- Não eu.
- Deixa até mais gostoso.
- Ham?!
- É, o gosto e o cheiro
deixa mais excitante.
- Puta que...
- VAMOS CANTAR OS PARABÊNS?
– gritou a minha tia, salvando-me dessa tarada.
***
Tá ai uma
das coisas boas dessas reuniões de minha família, a comida. E graças à boa vida
da titia acabamos sendo presenteados com uma mesa farta. Após me aproveitar de
cada prato, divinamente bem preparado, resolvi sentar em uma das poltronas para
aproveitar esse rápido momento em que alguns estão comendo e outros descansado,
para poder ficar um pouco só.
Observei que
o meu primo-aniversariante-fulano estava perto dos seus amigos, olhavam para
mim e davam risinhos tímidos. Olhei mais um pouco no salão e vi a minha
prima-tarada-fulana olhando para mim, acariciando as coxas. Depois ela
aproximou uma mão da outra, encostou as pontas dos indicadores e dedões e fez o
formato de uma xana, fazendo movimentos com a língua imitando eu chupando
aquilo.
Eu mereço.
Meu celular
enfim vibrou no bolso. Finalmente um sinal de vida além das paredes daquele
manicômio. Alguém lá fora se lembrou de mim e poderia, pelo menos por celular,
me livrar das alucinações que aquele ambiente hostil estava me proporcionando.
Era a Cris,
minha doce e romântica namorada. Acabava de me mandar um sms.
- Oi, cachorrão gostoso. Au
au
- Au au
- Quero te dar.
- Tô no massacre da serra
elétrica, amor. :\
- Esqueci que ia pra esse
aniversario. :(
- Tá um inferno. :*(
- A senhorita condiloma já
tentou te estuprar?
- Sim, mas a missão dela foi
infeliz.
- Quando a gente se ver irei
querer avaliar o seu instrumento. Se tiver algo diferente eu lhe capo.
- Tudo bem. :D
- Ainda dá pra nos vermos
hoje, amor. O soldado Ryan quer ser resgatado?
- Acho que os nazistas
venceram essa batalha.
- Que pena.
- Mas amanhã irei precisar
do seu carinho.
- Já irei separar o meu chicote.
- Cachorrona.
- Au au
- Te amo.
- Também te amo.
- Já tô indo dormir então.
- Tudo bem, amor. Beijos nos
lábios. :-*
- Nos lábios? Você está até
comportado.
- Nos grandes lábios. :-D
- Aaah, agora sim é o
cachorrão que conheço.
- rsrsrsrsrsrs
- Au au. Beijos meu homem da
glande grande.
- Tá assistindo muito vídeo
na internet. Rsrs
- É... mas não deixa de ser
verdade.
- Beijos amor.
- Beijinhos. E sobreviva,
por favor.
- Pode deixar. :)
***
Vendo a
minha tia vir na minha direção fez eu pensar se conseguiria cumprir a promessa
a Cris de que iria sobreviver.
- GAAAAAABEEEEE!
Precisava
gritar de novo?
- Oi, tia.
- Gostou do aniversario?
- Adorei tudo. – menti. –
pena que já está acabando a festa.
- É uma pena mesmo. Espero
que venha nos visitar mais vezes.
- Irei sim. – sorrir
amarelamente. - Irei sim.
- Deixa eu te perguntar? – e
adianta eu permitir ou não? – Isso é uma flor de Lis? – perguntou apontando
para o meu cinto.
- É sim, tia. Gostou? Fui
escoteiro, lembra?
- Isso é coisa de satanás.
- Como é?
- O pastor disse que a flor
de Lis é coisa do diabo·.
- Cruzes, tia. A senhora
acreditou?
- É verdade, sobrinho.
Pesquisa na internet. Isso vai fazer tu ir pro inferno e ser estuprado pelo
capeta.
Não
adiantava argumentar.
- Tudo bem, tia. Irei me
livrar de tudo que tiver a flor de Lis em casa.
- Acho bom mesmo. – disse me
dando leves tapas na bochecha. – agora deixa eu ir que seu tio irá fazer o
discurso final.
Acho
engraçado a crença de alguns protestantes, como a titia. Para eles tudo vem do
capeta. Fico imaginando a minha tia, uma senhora que botou tantos filhos no
mundo, transando.
- Ai... ai... ai... Meu
Deus.... ai... que gostoso... ai... ai.... vai.... vai gostoso... ai... isso é
coisa do capeta... ai... satanás... ai... é tão bom... ai... ai... sai
demônio... ai... ai... isso só pode ser coisa do pé preto... ui... mais
fundo... é coisa do capeta... É COISA DO CAPETA.
Enquanto
fico pensando essas, como diria a vovó, saliências, meu tio está discursando no
microfone. Percebo então que o fim da festa está próximo. Enfim sobrevivi.
Poderei ir aliviado para os braços do meu amor, dizer com todas as forças que
sobrevivi graças a ela.
Fiquei
aliviado, afinal todo aquele tormento iria acabar. Enfim, iria acabar. Não
precisaria mais conversar com a minha tia, não iria ver mais os olhos
desconfiados do meu primo, e nem enfrentar a minha prima tarada. Enfim, tudo
aquilo iria acabar e eu teria paz na minha vida para sempre.
Feliz por
tudo isso, resolvi deixar meus pensamentos de lado e ver o discurso do meu tio,
Consegui escutar somente a frase final.
-... e ainda temos outros treze filhos para fazerem
aniversário. E o próximo é daqui a duas semanas. Todos aqui já estão
convidados.
Puta que
pariu!
Xulapeta e Peidrolina
Xulapeta era uma plus size ativista. Uma das maiores
lutadoras pela liberdade do corpo feminino, encarcerados em um padrão de beleza
desumano e sem sentido. Desde que começou a ler livros de autoajuda e fazer
terapia com uma psicóloga, ela deixou de lado a bulimia e abraçou, com agrado,
os sabores prazerosos das comidas carregadas de gordura saturada, sal e
carboidratos.
Invadiu vários desfiles por ai, gritando a todos a crueldade
que aqueles tipos de eventos faziam com a humanidade. Fazia palestras em
escolas dizendo às adolescentes que não existe padrão de beleza, que são lindas
como são. Rapidamente ela virou referencia na luta contra o mercado da moda.
Certo dia Xulapeta entrou em uma lanchonete, aproveitou que
as cadeiras de plástico não tinham apoio e juntou duas (uma para cada lado da
bunda) e sentou. Pediu os lanches de A a Z e ficou aguardando. Estava
escrevendo um texto no celular falando que as mulheres deveriam comer o que
lhes fazem feliz, pois a felicidade é o sentido dessa vida e as pessoas devem
lhes amar como são.
Ao longe ela viu entrando uma mulher super magra. Não a
conhecia, mas seu nome era Peidrolina, secretária de um empresário famoso do
ramo dos cosméticos. Ela sentou em uma mesa, com uma amiga, e pediu um x-tudo
duplo king sive com fritas extras. Seu pedido chegou e ela começou a devorar,
como se não houvesse amanhã.
Xulapeta olhou pra baixo e viu seus peitos caindo sobre
mesa, ocupando metade dela. Olhou para a moça, magra e toda trabalhada na
produção, comendo como uma condenada a cadeira elétrica. E refletiu sobre toda
a sua vida.
Peidrolina estava quase acabando, quando uma grande
escuridão abateu sua mesa e, antes que sua amiga falasse alguma coisa, foi
golpeada com uma mesa de alumínio na cabeça, tão forte que sofreu um grave
traumatismo craniano e morreu ali mesmo.
Xulapeta foi presa, mas com a certeza de que sua ideologia
não seria superada por uma sequela com distúrbios hormonais belíssima que come
tudo e não engorda.
Afinal, obesidade é ser feliz.
O menino que não usava cueca.
- Não uso cueca.
- Não usa porque não quer.
- Aperta o saco. Como andar por ai com o saco apertado?
- Compre uma cueca mais frouxa.
- Ai vai ficar entrando no cu. Como andar por ai com a cueca
no cu?
- Compre daquelas cuecas box.
- E o calor nortista? Vai esquentar tudo. Como andar por ai
com o colhão quente, suando, coçando?
- Compre cuecas de tecido leve.
- Mas é um grande problema pra mijar. A gente têm que abrir
o zíper, enfiar a mão lá dentro, abaixar a cueca, e urinar com ela fazendo
força pra cima. Você não consegue balançar direito, e acaba molhando a cueca.
- Limpa com o papel higiênico, oras.
- Não vou usar cueca. Só é problema.
- Você que sabe. Nunca vi isso. Homem que é homem usa cueca.
No dia seguinte
- Bom dia, Juca.
- Bom dia, Pedro.
- Sabe, Juca. Parei de usar cueca também.
- Por que mudou de ideia, Pedro?
- Ontem eu fiquei com Antoninha.
- Ela é casada, Pedro.
- Eu sei. A gente se agarrou atrás da casa dela. Abrir o
zíper, abaixei a cueca, mas ela fica forçando pra cima, apertando as bolas.
Resolvi tirar a calça e a cueca. Tonhão apareceu, quase nos pega, sai correndo
nu, pulando o quintal dos outros.
- Se não tivesse de cueca, era só abrir o zíper. Sem
problemas.
- Foi o que percebi.
- Viu como não usar cueca só tem vantagens?
- Os homens precisam saber disso.
- Vamos viajar fazendo palestras de “Porque não usar cueca”.
- Vamos.
Nem Tudo é o Que Parece
Fuu fuu fu fu fuuuuu (Whatsapp chamando)
- Vem aqui em casa, pra gente trepar horrores.
- Por acaso cresceu alguma árvore no seu quintal que não tô
sabendo?
- Você entendeu.
- Depois que a gente começou a ficar você ficou desbocada.
- Não fiquei desbocada, só ficamos mais íntimos. Eu sou
assim.
- Você sabe que sou um homem recatado e do lar.
- Quanta frescura! Vem logo me comer.
- A gente fez amor ontem, e já tá com vontade hoje?!
- Não foi amor, foi sexo. Demos uma foda genial.
- Essa palavra é horrível.
- Você é todo fresco, mas fode bem.
- Obrigado, eu acho.
- Vem ou não?
- Tô cansado de ontem.
- Affffff
- Sabe, Lu, estou procurando um relacionamento serio.
- Pra que?
- Pra me estabilizar. Curtir só uma pessoa, namorar, casar,
ter filhos.
- Que pensamento retrogrado.
- Você não pensa nisso?
- Quero é fugir de casamento.
- Você ficaria linda com vestido de noiva.
- Ziuuuuuu
- É sério, Lu.
- Marcos, esse palpo tá chato. Não quer fuder, têm quem
queira. Fui.
- Abraços, Lu.
Fuu fuu fu fu fuuuuu (Whatsapp chamando)
- Oi, Marcos.
- Oi, Sandra.
- Tudo certo pra hoje?
- Com certeza.
- Vai nos levar onde?
- Naquele motel novo que inaugurou semana passada. Antoninha
e Carla aceitaram o convite?
- Com certeza. Elas já até estão aqui, todas molhadinhas por
você.
- Pelo visto vocês vão me destruir.
- E mais.
- Chego ai daqui a pouco.
- Certo.
Fuu fuu fu fu fuuuuu (Whatsapp chamando)
- Marcos.
- Fala, Lu.
- Serio que a gente não vai fuder hoje?
- Estou quebrado, Lu.
- Cara chato!
- Tenho que sair agora.
- Vai onde?
- Pra igreja.
- Fala serio.
- Vou rezar por você, não se preocupe.
-...
- Abraços.
- Vai te fuder, vai.
Vestes para se despir
Ela se vestiu para se despir.
Uma dança sensual e romântica,
Com profundezas de um louco tesão,
Como gotas de poesia profana.
Minha boca foi inteira ao chão
E meu membro foi erguido ao céu.
Cada peça de roupa era um réu
Condenado a ficar longe da cama.
Éramos carnes, corpos nus,
Que se amavam enlouquecidamente,
Arguido com pensamentos constantes
De uma luxúria infernal e latente.
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