Diante de uma multidão de transeuntes que transitavam na orla da cidade, ela me chamou a atenção sem nem ao menos querer. Seus cabelos vermelhos ganhavam mais vida com o doce vento nortista, porem seu rosto demonstrava o descontentamento momentâneo por qual ela estava passando. Pés nervosos, olhos que circulavam a tudo e a todos sem se prender a nada ou ninguém, ora ou outra passavam por mim, mas era como se eu não estivesse ali. Em rápidos, porem repetitivos, momentos ela tirava o celular da bolsa para verificar a hora, e bufava sua insatisfação. Apesar da cara fechada ela estava linda. Eu tinha o que fazer, mas parei ali somente para aprecia-la e imaginar quem seria a pessoa que deixaria aquela linda mulher esperando a ponto de tornar uma noite feliz em uma fatídica desilusão. Queria poder ir até ela, puxa-la pela mão e dizer “Venha, vamos nos divertir juntos. Deixe-me conquistar o seu mais saboroso sorriso”, mas não tive tempo para reagir, pois a sua espera se tornou a sua ida quando ela, enfim, desistiu de ficar ali. E quando, por fim, vi suas ultimas mechas vermelhas dobrando a esquina e sumir percebi que, novamente, deixei uma oportunidade se esvair como uma criança aprendendo a beber água com as mãos. E, hoje, somente posso me debruçar na lembrança e imaginar as mil coisas que dois solitários poderiam fazer em uma noite no parque.
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