sexta-feira, 23 de setembro de 2016

O Poeta e a Musa Morta



Ele entrara no quarto, e ainda pôde ver o IML fechando o zíper do pacote com o corpo dela dentro. Seu rosto estava pálido, com uma paz incomum que só a Morte entende seu sentido. Em um dos cantos sua mãe chorava, tentando ser consolada por seu esposo que também desabava em agonia. O ar estava pesado, não somente pelo suicídio de uma jovem, mas pela cruel angustia de não saberem o motivo de ela ter amarrado seu lindo pescoço em uma corda e tirado sua vida. Mas ele sabia os motivos. Todos diziam que ela era uma jovem feliz, e com um grande futuro. Ele sabia que sorrisos, nos dias de hoje, são somente armaduras. Uma camuflagem eficiente para que ninguém saiba o que realmente está se sentindo. Talvez ele fosse o único que sabia dessa tristeza escondida em juventude, e por isso a amara tanto, mesmo sem nunca ter se declarado. Os homens do instituto passaram do lado dele, com o corpo dela, e não pôde deixar de pensar que se tivesse a presenteado com uma, das tantas poesias que ele escrevera em sua homenagem, talvez ela tivesse encontrado um motivo para viver. Talvez naquele momento, em vez de um corpo jovem morto, sendo colocado dentro de um camburão, houvesse uma moça com a vontade de viver renovada. Acredita-se que foi este o motivo dele virar um escritor assíduo, enviando suas poesias para o mundo em busca de redenção. Procurando corações amargurados que possam reviver seus sonhos graças as linhas e entrelinhas de suas poesias de solidão.

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