quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

A Diabólica Trindade

As faixas amarelas balançavam cada vez que a brisa fria surgia do norte. Olhos curiosos estavam em todo o canto ansiando por respostas. Câmeras pesavam sobre os ombros fortes de repórteres cinematográficos que gravavam tudo minuciosamente. Um rastro de sangue enfeitava, de forma macabra, aquele cimento cinza. Fumaças se esvaiam pelo ar vindo de um carro que capotou até entrar em uma loja de artigos infantis, como se uma criança com raiva tivesse lhe arremessado contra outros brinquedos.
Era mais um das centenas de acidentes de carro que acontece no Brasil.
Os bombeiros haviam chegado primeiro ao local e conseguiram, rapidamente, retirar um homem das ferragens daquilo que um dia foi um carro. Pelo que se soube ele estava vivo, e o levaram as presas ao hospital. A polícia, em seguida, chegou para fazer o seu trabalho. Cercaram todo o local com as faixas amarelas e começaram a interrogar as testemunhas.
O detetive Souza, ou somente Souza, estava no local. Mais uma vez havia sido chamado para analisar um entediante acidente de carro. Tudo estava do jeito como sempre estava. Diversas pessoas atrapalhando o seu trabalho, repórteres enchendo o saco, policias andando pra todos os cantos querendo mostrar serviço na frente das câmeras, um carro detonado e uma vitima no chão.
Souza olhou para o corpo estirado no asfalto enquanto mastigava o seu palito de dentes. Seus óculos escuros escondiam seus olhos castanhos que via com desdém aquela moça morta. Mais uma vitima de um homem, provavelmente, embriagado. As pessoas realmente não aprendem.
O corpo da mulher estava coberto com um delicado pano branco, escondendo seus ferimentos graves e fatais dos curiosos e da mídia. Mas o pano não era suficientemente grande para cobrir todo o corpo. Os pés pálidos e a mão direita ficavam visíveis para todos que quisessem ver aquele pedaço de carne sem vida.
Em nenhum momento Souza sentiu vontade de ir buscar mais um pano, que sabia que os bombeiros tinham, e cobrir por completo aquela jovem. Para que? Ele não a conhecia e não se importava com ela. Ela não significava nada para ele. Provavelmente alguém iria chorar a morte dela. Mas não era problema dele. Ele só estava lá para fazer capa, pois acidentes de carro não são crimes que realmente façam jus a sua inteligência como investigador. Havia um homem porre que atropelou uma mulher ao atravessar a rua. Fim. Não há mistérios.
E isso era um pé no saco.
Nas noites de domingo, quando Souza está de folga, ele gosta de sentar em sua poltrona e assistir a filmes policiais. Sentia inveja de ver aqueles investigadores americanos caçando perigosos e geniais matadores em serie. Sonhava em um dia poder caçar algum desses. Assim como os agentes do FBI, nos Estados Unidos, para Souza capturar um desses criminosos é uma honra. Uma prova da sua incrível capacidade como investigador.
Mas a realidade era nua e crua. Homicídios assim eram raros na cidade de Albuquerque. O máximo que tinham eram assassinatos passionais. A cidade estava em ascensão, se desenvolvendo rapidamente graças as indústrias que começaram a se instalar naquela região. Mas as pessoas teimavam em viver aquela vida pacata de interior. Raiva entre os moradores era difícil. Aparecer uma mente psicopata nessas condições de ambiente familiar muito bem estruturado era quase impossível, as chances quase se reduziam a zero.
- Acho que já deu por aqui Souza. – disse um homem se aproximando. Era Marcos, seu parceiro.
- O que temos?
- As testemunhas oculares afirmaram que o homem vinha em alta velocidade. A mulher estava atravessando a rua e acabou sendo atingida. Ele arrastou o corpo dela por uns vinte metros, até que perdeu o controle, capotou e entrou na loja de brinquedos.
- Uhum! – tirou o palito da boca e jogou ao chão. – foi isso que me disseram também.
- Sabe quem é a mulher?
- Ela está totalmente irreconhecível. As testemunhas não tem ideia de quem seja. – disse Souza, olhando novamente para o rastro de sangue no chão e o corpo da jovem.
- Já chamamos o IML, mas ainda não deram o ar de sua graça.
- Típico.
- Vamos embora. Daqui a pouco estão chegando e vão remover o corpo para a perícia. Estão vindo também rebocar o carro. O resto não é com a gente.
Souza concordou com um movimento de cabeça. Entraram no carro e partiram. Ele foi olhando as casas passando como flashes pelo vidro da porta do carro, imaginando qual seria o “grande” caso que viria depois.

O frio era intenso, mas conhecido. A sala continuava com as suas paredes verde-musgo descascado, sem vida. Ao lado um aparelho fazia o seu típico trabalho, retirava todo o sangue do corpo pelo braço e o colocava de volta, já filtrado. Na poltrona estava um homem. Seu nome era Carlos, e estava mais uma vez fazendo sua sessão de hemodiálise.
Carlos havia sido um grande jogador de futebol, mas a idade foi lhe tirando o talento e acabou sendo esquecido por todos. Seu corpo demonstra que um dia foi um grande atleta, mas agora estava em decadência. Uma barriga proeminente, um ar cansado, triste e sem vida.
Seus rins pararam de funcionar, e isso abalou mais ainda a personalidade de Carlos. Se já era mal humorado, agora havia ficado insuportável. Sua mulher, Barbara, está cada vez mais distante. E seus filhos já haviam se afastado há muito tempo. Isso só fazia Carlos se afundar mais na lamuria. Não suportava ver como a sua vida tinha ficado.
Ele sabia que seu comportamento estava afastando as únicas pessoas que ele se importava e que haviam ficado ao seu lado depois do fim da sua carreira. Mas ele simplesmente não conseguia mudar. Ser bem humorado pra que? Ele estava morrendo e a vida lhe tirou tudo. Havia se doado todo ao esporte e eles simplesmente lhe chutaram para o abismo do esquecimento. Não dava, simplesmente não dava pra aceitar.
A sessão havia acabado e ele saiu da sala a qual já fazia parte de sua vida por dois anos. Ao abrir a porta encontrou Barbara sentada na poltrona. Ela levantou a cabeça e o olhou. Viu aquele mesmo ar triste e revoltado da vida. Se perguntava onde aquele homem humorado e de bem com tudo, ao qual se apaixonara, estava?
Ela só levantou e foi andando, sendo seguido por Carlos alguns passos atrás. Durante o caminho pararam pra ver um tumulto do lado de fora. Olharam pela janela – estavam no segundo andar – e viram uma ambulância chegar com as sirenes gritando. De lá retiram um homem desacordado em uma maca, sendo levado para dentro as presas com uma equipe de enfermagem ao lado.
Moravam na cidade de Albuquerque desde crianças, e ainda não haviam se acostumado com o grande desenvolvimento que aquela cidade havia sofrido. Antes calma e pacata, agora tinha ganhado ares de cidade grande. Muito movimento, muito barulho, pessoas andando apressadas pra todo lado, e as insuportáveis sirenes das ambulâncias e viaturas policiais.
Carlos suspirou ao ver aquele homem entrando no hospital. Estava na fila de espera dos transplantes de órgãos há tanto tempo, e não conseguia parar de pensar, a cada vitima que via na TV, se aquele corpo seria o responsável pela renovação de sua esperança. Era cruel, ele sabia, mas desejava a morte de todas as pessoas até, finalmente, ele ganhar um rim novo.
Minha avó, em sua sabedoria senil, uma vez chegou para mim e me disse uma verdade milenar, que levo comigo ate hoje. Com os seus cabelos brancos balançando graças ao ventilador, e seus olhos perdidos devido à cegueira ocasionada pelo glaucoma, ela me disse:
- Meu filho, cuidado com as coisas que você pede. Você pode acabar sendo atendido.
Fico me perguntando se Carlos nunca recebeu um conselho assim. Se o recebeu, só lamento por não ter ouvido. Afinal, não é só Deus que consegue escutar os nossos mais íntimos desejos.

Duas semanas se passaram depois desse fatídico acidente. Acabaram localizando a família da moça. Uma jovem estudante de Letras. Seria mais uma professora que renovaria as esperanças da sociedade para o desenvolvimento de uma geração que resolveria parte dos problemas que enfrentamos hoje. Ou só mais uma professora que encheria de medo o coração das pequenas crianças. Ninguém irá saber. O que poderia ser uma educadora, ou o que sobrou, está preso dentro de um caixão em um cemitério particular.
O homem que provocara o acidente não resistiu e teve morte cerebral. Ninguém no hospital ficou triste por ele, ninguém o conhecia. Mas sua morte causou alegria para alguns médicos. Em sua identidade afirmava, com todas as letras, que ele era doador de órgãos.
- Quem diria que esse irresponsável tomaria uma atitude tão altruísta assim. – disse um enfermeiro, lembrando-se do caos que ele causou ao volante.
Correram atrás, mas não acharam nenhum familiar ou amigo. O homem era completamente só no mundo. Se não fosse a identidade ele seria mais um indigente. As questões burocráticas e legais foram rápidas, e logo os médicos foram autorizados a destrinchar aquele corpo em busca de órgãos bons para usarem em outras vidas.
Desligaram as maquinas que o mantinha “vivo” e o levaram até o necrotério. Lá o colocaram em cima de uma mesa de mármore, acolchoado por um alumínio inox, retiraram a bata hospitalar e começaram a preparar os materiais.
O homem era jovem, trinta e quatro anos, branco, forte, aparentemente bem cuidado. O mistério que cercou o acidente aumentou com o tempo. Não encontraram um vestígio de álcool, ou qualquer outra droga, em seu sangue, assim como as analises técnicas verificaram que o carro estava em perfeitas condições. O que levou ele a causar aquele acidente, ninguém sabia. Concluíram que fora suicídio, típico para homens solitários como ele.
Em seu peito havia uma grande tatuagem, um tridente. A ponta do tridente do meio pegava o inicio do pescoço, e as das extremidades chegavam até o meio de cada peitoral. O cabo ia até perto do umbigo. Havia feito com tinta preta, mas perceberam que havia inscrições minúsculas de tinta vermelha por todo o tridente. Algo que eles concluíram, mesmo desconhecendo a língua, ser chinês.
Ficaram curiosos pra saber o que significava aquelas inscrições, então um dos médicos tirou algumas fotos e pediu sigilo para o outro. Este retribuiu com um sorriso, aquele tipo de sorriso não-esquenta-que-eu-também-sou-antiético. E com uma lamina de bisturi cortaram o peito e abdômen em linha vertical, desnudando suas entranhas. Constataram que todos os órgãos poderiam ser reaproveitados.
Aquele corpo salvaria vidas. Nada mal para alguém que matou uma moça.

As gotas de água caindo no vidro da janela, e aquele barulho melancólico da chuva do lado de fora, demonstrava claramente como Carlos estava se sentindo naquele momento. Na verdade ele sempre se sentira assim depois que foi obrigado a se aposentar. Tudo só estava piorando.
Ele ouviu a porta do quarto abrir, mas não se importou em virar o rosto pra ver quem era, ele já sabia. Somente ele e Barbara ainda moravam naquela casa. Então permaneceu com os olhos grudados nas gotas de água que escorriam no vidro da janela que fica ao lado de sua cama.
- Amor, você precisa reagir. – disse Barbara, com uma voz forçadamente preocupada.
- Me deixe em paz Barbara. Por favor.
- Você é meu marido, eu lhe amo. Não suporto ver você assim.
- Já tivemos essa conversa antes.
- Varias vezes, por sinal.
Carlos voltou-se para Barbara. Ela estava usando uma camisola que valorizava seu corpo, mesmo com a idade ela não perdera a sua beleza. Seu cabelo loiro estava solto. Estava com um ar triste no rosto. Sempre ficava assim quando resolvia parar seus afazeres domésticos e olhar para o seu marido. Carlos não suportava aquele olhar de piedade.
- Eu vou melhorar. – mentiu, mais para si do que para ela.
- Você me diz isso há tanto tempo.
- O que quer que eu faça? Você já parou pra pensar como a minha vida está?
- Quer dizer que não vale a pena viver?
- Do jeito que está... Sabe, às vezes penso em terminar logo com esse sofrimento.
- Você está sendo egoísta.
Carlos levantou-se da cama, foi até uma mesa. Pegou um vidro de perfume, olhou por alguns segundos, e depois o arremessou com toda a fúria contra a parede. Barbara se assustou com a atitude. Nunca havia visto Carlos tão furioso.
- Você realmente acha que estou sendo egoísta?! Barbara, acorda. Eu estou morrendo.
Os olhos de Barbara se arregalaram. Eu estou morrendo. Carlos nunca havia proferido essas três palavras juntas em uma mesma frase antes. Não na frente dela. Foi a primeira vez que Barbara percebeu que ela é que estava sendo egoísta. Apaixonara-se tanto por aquele homem famoso, rico, de bem com a vida e com um bom humor contagiante que, quando ele foi mudando devido às perdas, ela se afastou.
Que idiota era ela. Não percebia que deveria apoiar o marido, em vez de critica-lo. E agora, depois daquelas três palavras ditas, ela havia percebido que tanto aquele homem que ela tanto amou, como o que estava na sua frente, estavam morrendo. Ele não permaneceria muito tempo vivo sem um rim. O prognostico agravado pela depressão, deixava Carlos muito debilitado.
- Amor. Você sabe que pode contar comigo. Sempre. – disse Barbara, chorando.
Eles se abraçaram e se beijaram como há muito tempo não fazia. Por alguma razão esta rápida conversa teve mais efeito do que as longas discussões que eles já haviam tido antes. Aquelas rápidas palavras acabaram despertando criaturas há muito tempo adormecidas em seus corações. De alguma forma, mesmo por alguns segundos, eles acreditaram que tudo ficaria bem e voltariam a ser o casal de antes.
O telefone tocou, quebrando o clima dos dois.
Carlos foi até a sala, deixando Barbara limpando suas lagrimas no quarto. Ele demorou poucos minutos ao telefone, e quando voltou de lá estava com uma felicidade perceptível. Barbara se assustou diante do grande sorriso de Carlos, não via aquele sorriso há anos. Não falou nada, esperou até Carlos se situar e dizer a noticia que o animara tanto. Demorou alguns segundos, mas ele disse.
- Encontraram um doador pra mim.

Carlos e Barbara chegaram animados até o hospital. Fizeram todos os procedimentos burocráticos e logo estava deitado dentro de um leito realizando os procedimentos pré-cirúrgicos. Uma equipe de enfermagem veio até ele, o colocou em cima de uma maca e o levaram até a sala de cirurgia. Barbara não pôde conter a felicidade. Tudo poderia voltar ao normal, enfim.
Na sala de cirurgia o cirurgião estava falando sobre o procedimento que iria ser feito a Carlos, ele concordava com tudo, sem questionar. Queria logo poder ir embora com o seu rim novo, começar a sua vida nova e recuperar o amor de sua esposa e de seus filhos. Tudo, então, seria diferente.
O coquetel anestésico começou a ser inserido por meio endovenoso. Ele foi aos poucos apagando. Sua visão começou a ficar turva, começou a misturar a realidade com imaginação. Antes de apagar ele olhou para a porta e viu um homem branco, de boa aparência, cabelo impecavelmente penteado, usando um terno de grife com uma gravata vermelha.
A cirurgia foi realizada sem nenhuma complicação.

Carlos foi liberado alguns dias após a cirurgia, sem nenhuma complicação pós-cirúrgica. Ele nem pôde imaginar a felicidade que sentiria ao ver a luz do sol quando saísse do hospital. No caminho de volta a sua mulher assumiu o volante do carro.
- O que iremos fazer agora amor? – Perguntou ela.
Ele estava sentado ao lado dela, olhando para as pessoas que estavam na rua. Sorriu e respondeu.
- Só quero viver.
Ele a olhou, e ela retribuiu o sorriso. Ao olhar de volta pra rua ele viu aquele homem novamente. Se assustou. Seus olhos ficaram fixos nos olhos dele. Aquele homem o olhava diretamente, um olhar sombrio e enigmático. Ele fitou Carlos até perdê-lo de vista.
Carlos empalideceu. Havia se lembrado daquela figura quando acordou após a cirurgia, mas acreditava que era alucinação da anestesia. E agora o vira? Que loucura era essa? Estaria perdendo a insanidade justo quando a sua vida iria começar a melhorar?
Olhou para a sua esposa e viu que ela estava recuperando as esperanças daquele relacionamento ser resgatado. Então resolveu deixar aquela historia de lado. Devia ser algum estresse comum após fazer essas cirurgias.

O telefone lhe tirou de seu sono pesado. Souza atendeu soltando fogo pelo nariz. Odiava ser acordado.
- Espero que seja importante. – disse.
Seus olhos, antes fechado pelo sono, logo ficaram totalmente abertos devido à descarga de adrenalina que a noticia que acabara de ouvir lhe havia injetado. Correu para o banheiro, lavou o rosto, escovou os dentes, pegou a primeira roupa que viu e saiu correndo para o seu carro.
Minutos depois ele estava chegando ao local que haviam dito. Era uma estrada de terra próxima a um sitio. Policiais já estavam no local e o ambiente já estava familiar. Faixas amarelas, pessoas sendo interrogadas. Nada fora do comum. Exceto o motivo que o levara a lá.
- Que temos?
- Um assassinato. – disse Marcos.
- Interessante. – disse enquanto caminhava até o corpo.
- Vai ficar mais interessante ainda.
- Por quê?
- Não é o único corpo que achamos. Há mais uns cinco espalhados pela cidade. Outras equipes estão nos locais. Não tem como ser coincidência.
Uma mulher, provavelmente de 45 anos, loira, corpo não tão bonito. Estava estirada no chão, deitada de bruços sobre uma poça de sangue. Havia sido morta com um corte no pescoço, atingindo a artéria.
- As outras equipes estão procurando conseguir as imagens das câmeras ao redor dos locais do crime. Este foi o único lugar afastado que tivemos uma morte. Pelo menos é o que achamos.
- Isso não foi só uma pessoa. Um grupo fez isso. Com certeza.
Souza não demonstrava, mas estava feliz. Seu pedido havia finalmente sido atendido.

Carlos acordou sentindo seu corpo dolorido e cansado. Não estava na cama ao lado de sua esposa, como havia dormido, estava jogado no chão da sala. Ele levantou-se assustado, tentando se lembrar de como havia chegado até lá. Mas a sua cabeça doía a cada tentativa. Demorou, mas logo percebeu algo que iria deixa-lo ainda mais desnorteado.
Estava todo coberto de sangue.
Ele foi cambaleando até o banheiro, sem saber o que fazer. Tirou toda a roupa e tomou um banho bem demorado. Iria jogar aquela roupa pra lavar, a mulher dele não podia ver aquilo. Não até ele saber o que havia acontecido.
Ao sair do banho ele se depara com uma cena que nunca imaginaria, e isso o abalaria mais ainda. Aquele homem, impecavelmente vestido, que estava vendo desde o dia da cirurgia, estava sentado no sofá de sua sala, de pernas cruzadas, segurando um copo de vinho.
- Bom dia, Carlos.
As palavras não saíram da boca de Carlos. Ele não sabia o que falar, não sabia quem era aquele homem e nem o que havia acontecido na noite anterior. Sim, a noite anterior. Será que aquele homem tinha algo haver com a sua amnesia e aquele sangue em seu corpo?
- O que você fez comigo?
- Eu?! – ele riu – não fiz absolutamente nada, meu caro. Quem fez foi você.
- O que você quer?
- Só vim aqui fazer algo. Você e eu agora somos um só. E eu não quero me ver preso. Aconselho-lhe a fugir. A polícia já sabe de tudo.
Aquelas palavras entraram confusas dentro da cabeça de Carlos, mas algo ele havia entendido. A polícia viria atrás dele. Mas por que ele deveria temer? Ele não havia feito nada. Ou teria feito? Estava coberto de sangue. Mas ele era inocente, aquele cara era o culpado. Não sabia como, mas tinha a certeza que ele tinha algo haver com aquela confusão.
Quando pensou em falar algo para entender melhor a historia alguém bateu na porta gritando ser a policia. Carlos se voltou assustado para a porta, e quando olhou de volta para o homem este já havia sumido, mais rápido que um piscar de olhos. Carlos, mesmo com a adrenalina no corpo e algo lhe dizendo para fugir, não o fez. Foi até a porta e abriu.
- Senhor Carlos?
- Sim, sou eu.
- Temos um mandado de prisão para o senhor pelo assassinato de, pelo menos, seis pessoas nesta noite.
Souza entrou, junto com os outros policiais, lhe algemando. Carlos não quis mostrar resistência, não podia contrariar a policia. Queria explicação e sabia que lá na delegacia algo a ele seria dito. Um dos homens que havia entrado voltou e disse.
- Senhor, precisa ver isso.
Ele puxou o Carlos pelo braço e o arrastou até onde estava o policial, era no quarto do casal. O que viram destruiu o mundo de Carlos. Primeiro foi o sangue, aquele liquido vermelho espalhado por todo o lugar. Depois viu um braço próximo a entrada. Um pé jogado em frente a tv. E assim iam, aos poucos, vendo o corpo de Barbara, decepado, espalhado por todo o cômodo.
- Eu não fiz isso.
- Aham, sei. Vamos senhor Carlos.
E o levou até a delegacia.

Duas horas de interrogatório e Souza ainda não havia descoberto quais os motivos levaram Carlos a cometer aquela chacina. Ele já havia mostrado três vídeos de três assassinatos que ele havia cometido naquela noite.
Em um ele aparece por trás de um homem e lhe dá uma porrada na cabeça com um pedaço de ferro. Tonto o homem cai, e ele começa a golpear dezenas de vezes a cabeça do sujeito até o crânio se misturar com massa encefálica e fazer tudo parecer uma gelatina estragada.
No segundo ele aparece e corre atrás de uma mulher. Ela foge, mas ele é mais rápido e lhe agarra por trás. Ele morde o pescoço dela e tira um pedaço. Larga ela no chão agonizando, e fica observando-a até morrer por perda sanguínea.
O outro é um jovem, aparentemente bem mais forte que Carlos, ele tenta lutar contra, mas acaba perdendo a luta. Carlos, vitorioso, agarra a cabeça do rapaz e consegue arranca-lo fora com um puxão.
- Sabe, achei que você me daria mais trabalho. – disse Souza para Carlos.
- Como assim? – perguntou, mesmo sem se importar. Queria era saber o que havia acontecido para ele fazer tudo aquilo.
- Sempre quis investigar um crime de um psicopata como você. Mas se mostrar assim diante das câmeras não foi muito inteligente.
Eles se olharam por alguns segundos e Souza pediu para leva-lo até a cela. Eles já tinham provas suficientes para deixarem aquele homem mofando na prisão. O sabor da investigação de um psicopata durou pouco, e isso irritou Souza. Não havia sido dessa vez.
Meia hora depois que foi encaminhado à cela um policial foi levar um prato de comida a Carlos, mas ao chegar lá se deparou com a cela vazia. Impossível. Não havia como ele ter saído de lá, a não ser que alguém tenha favorecido a fuga.
Os policiais começaram a se mobilizar. A correria foi total. Souza queria entender o que havia acontecido, como ele havia fugido e quem o tinha ajudado. Viram às fitas da delegacia, ele não havia saído do departamento ainda. Olharam nas telas e viram, na garagem, um rastro de sangue. Souza se assustou, aquele psicopata ainda estava lá e tinha feito uma vitima.
Como ele havia matado tanta gente, sozinho, e em tão pouco tempo? Quais os motivos de ele ter feito essa chacina? Como ele conseguiu fugir sem ajuda de ninguém e matar alguém dentro da delegacia? Muitas perguntas e pouquíssimas respostas, esse caso estava mexendo com Souza. Tudo havia voltado a ficar interessante novamente.
Ao chegarem à garagem viram algo que os chocou. Os anos de trabalho como policiais naquela cidade não haviam os preparado para ver aquela cena. Na verdade, não havia os preparado para crimes tão graves.
Carlos estava sob o corpo da tenente Nascimento, havia aberto todo o abdômen dela e estava devorando os seus órgãos. Alguns policiais vomitaram. Mas Souza ficou calmo, não sabia o motivo, mas a ânsia por um caso de tamanha proporção acabou o neutralizando de sentimentos humanos que lhe atrapalhassem.
Carlos percebeu a presença dos policias, levantou e se virou para eles. Estava escuro no lugar, não permitindo que Souza visse o rosto dele. Ele começou a dar passos em direção ao grupo de policiais.
- Carlos, deite-se no chão agora ou eu atiro.
Mas Carlos não parou, começou a andar. Seus passos foram acelerando até ele chegar à luz. O rosto dele estava totalmente mudado, pelo menos é o que Souza achou. A distância era grande, ele não podia ter certeza. Mas ele acredita ter visto os olhos de Carlos totalmente negros e sua pele com uma palidez incomum.
Carlos disparou pra cima de Souza, soltando um grunhido assustador. Em seguida só foi visto sangue e um corpo caindo no chão, desacordado. Souza atirou em Carlos e ele caiu instantaneamente no chão.
Eles foram até o homem e Souza se aliviou, a cor da pele dele estava normal. Só podia ter sido algo fruto do cansaço e sono. Marcos verificou o pulso de Carlos e constatou que ainda estava vivo.
- Por mim eu o deixava ai pra morrer. – disse Souza, guardando a arma.
- Chame a ambulância, agora. – disse Marcos para um policial próximo, enquanto via Souza ir embora.

As famosas paredes com tinta verde-musgo foram à primeira coisa que Carlos viu a abrir os olhos. Nem precisava ouvir os aparelhos zunindo em seu lado, ele já sabia onde estava. Tentou sentar na cama, mas uma forte dor no peito direito lhe tirou a força, e ele despencou de volta no colchão. Ele se lembrava de estar na cela, depois só lembrava-se de estar levando um tiro. Entre esses fatos existia um vácuo.  Levantou o lençol e viu o curativo.
Então não havia sido um sonho.
Com mais esforço ele conseguiu sentar. Colocou os pés pra fora da cama, arrancou o soro de seu braço e foi até a janela. Estava no vigésimo andar do Hospital Municipal de Albuquerque. Foi até a porta e tentou abri-la, mas estava trancada. O rosto de um homem apareceu pela janelinha e fez sinal de “não” com a cabeça. Era um policial e dizia que ainda estava preso e não podia sair.
Sua esposa. Como ele poderia ter feito aquilo com a sua esposa? Como ele teria coragem de matar Barbara, fatiar seu corpo e espalhar por todo o quarto? Meu Deus, como estava os filhos dele com toda essa noticia? E aquelas pessoas que ele havia matado naquela noite? Por que não se lembrava de nada?
- Perguntas. Por que tantas perguntas?
Carlos se voltou para a voz e viu aquele homem sentado na poltrona de acompanhantes. Olhou para a janela da porta e constatou que o policial não estava olhando.
- O que você fez comigo? Eu exijo respostas.
Ele olhou para Carlos e soltou aquele sorriso de quem se acha superior. Entre risinhos ele disse.
- Sabe quando queremos descobrir algo, queremos um plano para nos ajudar com alguma coisa, e não fazemos esforço nenhum para conseguir e o destino acaba dando as respostas na nossa mão?
- Sem rodeios. Me diz o que está acontecendo.
Carlos mostrou estar falando serio, tufou o peito mostrando superioridade e uma feição de raiva em seu rosto. Ele tinha que tirar respostas. Mas não parava de imaginar se aquele homem era um delírio da cabeça dele. Será que ele realmente era um demente? Um psicopata?
- Eu sou o Lúcifer, Carlos. O diabo em pessoa.
Para muitas pessoas essas palavras iriam ser motivos de medo, terror, mas Carlos se manteve calmo. Talvez por um lado dele ser cético, ou por achar que poderia estar alucinando. Mas a questão é que ele não se abalou diante dessa revelação.
- O diabo é? Sei.
- Lembra-se do homem que sofreu um acidente de carro, atropelando uma jovem e morrendo aqui neste hospital?
- Sim, o rim dele está dentro de mim.
- Pois é meu caro. Ele fazia parte de uma seita que tinha o intuito de trazer eu, o filho de satã, para a terra.
- Você acabou de falar que é o próprio Lúcifer, agora está dizendo que é o filho dele. Como quer que eu acredite em você?
- Ora, meu caro. Lúcifer, depois de milênios, conseguiu descobrir como retirar partes de sua natureza e formar vidas com ela. Filhos, em outras palavras. Eu sou o filho de Lucifer, mas também sou o próprio diabo. Eu e eles somos um só. – olhou para Carlos que demonstrava um ar de que não havia entendido. – Entendo a sua confusão. Isso é tão confuso como entender a santíssima trindade, afinal é o mesmo principio. Meu pai é invejoso, e quando viu Deus se fazer em três ele não quis ficar para trás. Acabou se espalhando em vários por ai.
- E o que eu tenho haver com essa historia.
- Bem. – se ajeitou na poltrona. – você acabou sendo uma vitima útil de tudo isso. Veja bem, a única forma que eu, Lucifer, tenho de vir a terra é pelo corpo podre de vocês, humanos. A seita a qual aquele homem participava tinha o intuito de me fazer possuir um corpo humano. Após meses de rituais satânicos eu consegui possuir o corpo dele.
Carlos ouvia tudo atentamente.
- Só que aquela criatura era fraca, acabou se arrependendo de tudo. E num ato de suicídio, para se livrar de mim, acabou fazendo tudo aquilo. Porem, o que achei que era o meu fim acabou sendo a minha salvação.
- Como?
- Como você sabe, por sorte, aquele homem era doador de órgãos. E como eu estava em cada célula do corpo dele, quando fui colocado em você, acabei também possuindo o seu corpo. Agora eu e você somos um só. Você, meu caro, é o diabo na terra.
Carlos se aterrorizou diante das palavras. O sangue lhe fugiu do rosto, suas pernas ficaram fracas. Ele não podia manter aquela criatura dentro de si.
- Prove. – disse Carlos.
Lúcifer sorriu. Levantou e com um olhar a porta da enfermaria se abriu. O policial entrou, querendo saber o que estava acontecendo. Foi-se aproximando devagar de Carlos quando a porta fechou-se sozinha e uma força lhe jogou contra a parede. A parede era como um imã, o policial não conseguia se desgrudar. Seu corpo foi se arrastando pela parede, se aproximando do teto.
Somente Carlos estava vendo que era Lúcifer que estava fazendo aquilo. O diabo olhou para ele e perguntou?
- Você já viu um homem cagar os próprios órgãos? – e sorriu.
Aquele policial começou a se contorcer e seu olho revirar. De dentro da sua calça começou a jorrar sangue, e em seguida pedaços de carne começaram a cair. O abdômen daquele homem começou a encolher, como um balão sendo esvaziado. O chão já estava ensopado de sangue coagulado e pedaços de carne. E, quando a vida lhe foi tirada, Lúcifer jogou aquele corpo no chão.
- Vá até o necrotério, lá você encontrará um medico. Interrogue ele sobre umas fotos que ele tirou do corpo daquele homem. Não se preocupe, ninguém ira lhe ver.
Ele saiu correndo, sentindo dores pelo corpo. O que Lúcifer havia dito era verdade, ninguém estava vendo ele. Ele passava na frente das pessoas e ninguém o notava. De alguma forma ele havia ficado invisível. Pegou o elevador até chegar ao subsolo, e lá se dirigiu até o necrotério.
Lá estava um homem tirando o coração de um corpo na mesa de mármore. Carlos foi até o balcão, pegou uma lamina de bisturi, pulou na costa do medico e começou o interrogatório.
- Foi você que retirou os órgãos de um homem que sofreu um acidente de carro há algumas semanas atrás?
- Meu Deus, quem é você?
- Responde, se não é seu corpo que irá ficar no lugar desse.
- Sim, sim. Fui eu.
- Você tirou umas fotos dele, não foi?
- Não, eu nunca faria uma coisa dessas.
- Doutor, não brinque comigo. Não sabe quem eu sou?
O medico olhou para uma bandeja que estava no balcão do outro lado, deixada encostada na parede para escorrer a água. Ele conseguiu ver o reflexo de seu agressor, e viu que era aquele homem que havia feito aquela chacina. Não podia mais mentir.
- Sim, tirei.
- Me fala delas.
- Bom, foi da tatuagem que ele tinha. Era um tridente no peito.
- Só?
- Bom, eu tirei as fotos porque havia umas inscrições e eu queria saber o significado.
- E o que estava escrito?
- O homem ao qual eu levei não soube traduzir tudo. Mas era algo como “este corpo agora é uma porta do inferno na terra”.
Então era verdade. Aquele monstro não havia mentido. Ele empurrou o medico que caiu no chão. Ia sair correndo quando ouviu alguém começar a gritar. Quando olhou pra trás viu o medico no chão, se contorcendo de dor. Sua roupa e seu jaleco começaram a se rasgar, até a sua costa ficar nua.
Uma proeminência começou a surgir no meio da costa do medico, atravessando de forma vertical toda a costa. Algo queria sair de lá. A pele começou a ser rompida, sangue a escorrer. Até que, como se alguém puxasse, a coluna vertebral daquele homem foi arrancada e jogada longe.
Ele caiu morto no chão.
- Não acredito que você ia deixar esse homem vivo. – disse Lúcifer, aparecendo de repente.
- Ele não fez nada.
- Foi ele quem te deu o rim que me colocou em você. Além de que ele iria chamar a policia logo em seguida pra ir atrás de você.
- O que você quer comigo afinal?
- Seu corpo.
- Pra que? Pra ficar matando as pessoas por ai?
- Na verdade não.
- Pra que então.
Lúcifer andou um pouco pela sala, passou o dedo indicador naquele corpo aberto em cima da mesa de mármore, colocou dentro da boca e disse.
- Quero lhe usar para ser o líder da minha seita. Em troca de darei saúde, riqueza, mulheres – viu o desinteresse de Carlos e concluiu. – o amor de seus filhos, talvez.
O amor de seus filhos? A tentação era grande. Mas será que seria um amor verdadeiro? Com certeza não. Carlos já sabia que aquela historia havia ido longe demais. Ele tinha que terminar com tudo.
- Lamento desaponta-lo, mas eu recuso a proposta. – e saiu correndo.

Conseguiu escapar do hospital pela garagem. Nas ruas ele saiu em disparada. As pessoas olhavam para ele curiosas. Ele nem notara que ainda estava com a bata do hospital. Enquanto corria rumo à conclusão do plano que tinha tramado, Lúcifer ia aparecendo no caminho para convencê-lo a não fazer o que pretendia.
- Eu sei o que você quer fazer. Desista. Você está deixando escapar a grande oportunidade que esperava. – falou o Lúcifer sentado em um banco.
- Eu posso lhe dar tudo o que você sempre quis. Até coisas que você nunca imaginou ter. É só parar de correr e fazer o que lhe disser. – falou Lúcifer quando Carlos dobrou em uma esquina.
- O que você vai fazer não adiantará de nada. O mal não irá morrer. Eu ainda estarei trabalhando para os meus planos darem certo. Você pode estar do meu lado e não sofrer as consequências. – Falou Lúcifer na entrada do Metrô, quando Carlos descia as escadas.
Carlos corria como nunca havia corrido em sua vida, nem nos campos de futebol dava tanto de si. Não dava ouvidos ao que Lúcifer dizia. Ele já havia decidido o que iria fazer.
Parou na beira dos trilhos do metrô, ofegante. As pessoas em volta ficavam o olhando, curiosas, querendo saber o porquê ele estava com aquelas roupas de hospital. Um alvoroço começou na entrada do metrô. Quando Carlos olhou para trás viu Souza chegando.
- Carlos, não ouse fugir. Não tem por onde escapar. Deite-se no chão, agora! – disse, apontando a sua .38 para Carlos.
Carlos ouviu o barulho do Metrô chegando, as luzes do túnel já estava visível. Ele olhou para Souza, sorriu, e disse.
- Não se preocupe policial. Não haverá mais mortes. Eu vou resolver tudo.
E se jogou na frente do metrô. A porrada espalhou sangue por todo o lugar. Aquele psicopata, depois de sua chacina, resolveu se suicidar. A raiva por não ter conseguido levar esse assassino pra penitenciaria era grande. Mas pelo menos ele não iria mais matar ninguém.
Souza e seus homens começaram a falar nos rádios e celulares, chamando o IML para limpar o local. Novamente iria se debruçar sobre as questões burocráticas da profissão. Era um saco.
O Diabo estava lá e viu tudo. Foi até perto da trilha e viu o sangue espalhado e as entranhas de Carlos. Sorriu diante da cena. Não sorriu simplesmente por ver mais um humano morto. Sorriu diante da esperteza de Carlos.
Carlos não queria ter seu corpo usado, e nem que outras pessoas fossem vitimas de satã. Quando Carlos foi vitima da insuficiência renal e viu as dificuldades que se tinha de encontrar um doador, resolveu que a partir daquele dia seria um doador. Se ele se matasse de forma simples, seus órgãos poderiam ser usados e acabar possuindo outra pessoa. A solução, diante do pânico, foi usar o metrô para estraçalhar o seu corpo.
O Lúcifer saiu de lá ajeitando o seu paletó. Carlos foi esperto, mas ingênuo. Ele já não tinha mais aquele corpo para usar. Mas Carlos não foi o único a receber um órgão daquele homem. Havia outras pessoas que foram possuídas, agindo de acordo com os interesses do inferno.
E o diabo havia encontrado outra forma de possuir corpos, sem precisar realizar todos aqueles rituais. Era só fazer um de seus servos serem doadores de órgãos, possui-los e depois mata-los. Simples. E logo ele estaria dentro do corpo de várias pessoas.
Faria vários de seus seguidores, que estão no governo, fazer campanha dali em diante a favor da doação de órgãos. Encontrou, por acidente, um jeito mais rápido de entrar fisicamente neste mundo e espalhar o terror que tanto tem sede.
O inferno possui mais armas do que possa supor nossa vã filosofia.

FIM

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