quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Carta aos gordinhos e sarados

Em tempos onde a ditadura da beleza impera na mente da juventude, ser gordinho é uma grande ofensa. Não se pode ser uma pessoa acima do peso, pois vai contra os princípios estéticos que regem a sociedade. É quase considerada uma poluição visual a permissão de gordinhos transitarem nas ruas e avenidas.

Quem é obeso já está acostumado a se ver no espelho e se perceber como tal. É uma realidade que ele conhece e convive vinte e quatro horas por dia. Mas, mesmo assim, talvez motivados por uma incapacidade de raciocínio logico, há pessoas que adoram lembrar aos gordinhos que estão gordinhos; como se, só pelo fato de estarem acima do peso, acabassem ganhando, de brinde, uma deturpação visual de si próprio – como acontece com a anorexia.

Além de servirem como instrumentos de alerta sobre a obesidade para o gordinho, eles acabam adotando uma postura de “salvadores da humanidade” com perguntas como “vamos correr?”, “vamos fazer academia?” ou “por que não faz uma dieta?”. Tentam levar as pessoas que não estão dentro de suas crenças estéticas para a sua realidade, tomando atitudes invasivas.

Até onde lembro, se não me falha a memoria, constitucionalmente falando, todos nós, neste país, somos livres. E até onde consta esta liberdade abrange aos nossos interesses quanto ao que queremos para o nosso corpo; desde que não seja uma atitude ilegal, como é o caso do aborto.

Sendo assim questiono-me, quando sou bombardeado por essas questões, para onde se foi a minha liberdade? Por que será que a condição física das pessoas que estão acima do peso incomodam tanto aqueles que não o estão? Passa na cabeça dessas criaturas que há a possibilidade de alguém estar acima do peso pelo simples fato de querer estar assim e não se sentir bem quando ultrapassam a linha do bom senso e começam a se intrometer?

Pode surgir, então, uma criatura caridosa vinda dos confins do inferno e dizer que “é pra cuidar da saúde”. Belo discurso, e não há como negar. Todo mundo sabe que a obesidade abre portas para diversas doenças. Mas se uma pessoa está ciente disso, e quer continuar do mesmo jeito, por que então outros se sentem no direito de adentrar a particularidade da vida alheia e opinar sobre isso e aquilo?

Que a morte é certa, todos sabemos. Mas da mesma forma que um gordinho sabe que sua gordura pode lhe causar um infarto fulminante, um magro sabe que o uso exagerado de álcool pode causar cirrose, ou um sarado sabe da overdose com o uso de drogas, um “bombado” sobre os perigos das “bombas”, câncer de pulmão com o uso de cigarro, aids sem o uso de camisinha.

A vida é regida por escolhas, e todos tomamos escolhas que nos levam a um único destino: a morte. Como ela será, ninguém sabe. Um obeso pode estar comendo uma pizza sozinho enquanto um magro caminha, cuidando da saúde, e acaba sendo atropelado por outro magro que estava sob efeito de álcool.

E vale ressaltar outra coisa, interessante por sinal: as maiores mentes da historia da humanidade eram sedentários. Ninguém ouve falar que Albert Einstein era fitness, que Kafka caminhava toda madrugada, que Sócrates levantava peso nas praças de Atenas, que Spinoza praticava ‘circuito’ em alguma academia, que Rousseau andava de bicicleta ou que Marx discutia sobre o melhor jeito de deixar a barriga “tanquinho” com os operários e capitalistas.

A palavra que gostaria que vibrasse com alta entonação nas mentes das pessoas é “liberdade”. Vivemos em uma sociedade onde a liberdade é direito e lei - desde que não seja criminosa ou invada a liberdade alheia. Então não se incomode com a barriga voluptuosa de alguém, se este não se incomoda com os seus vícios nocivos à sua saúde física ou moral.

E não se esqueçam de que os únicos cidadãos que possuem o direito de pedir para alguém emagrecer são os médicos e nutricionistas.

Abraços a todos, fiquem em paz e vamos comer!

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