Agora
que o pior já está passando, podemos conversar?
Durante
os anos em que estive dando aula de filosofia, a pergunta que mais escuto dos alunos
é sobre minhas crenças. Professor, o senhor é ateu? Professor, o senhor
acredita em Deus? Conforme os alunos vão conhecendo um pouco da filosofia, e
observando minhas aulas, modos de falar e os assuntos tratados, em algum
momento essa curiosidade batem em suas cabecinhas.
A
resposta acaba impressionando eles. Sou cristão, católico. De inicio eles ficam
confusos, pois as mentes deles ainda não conseguem perceber que a fé e a
filosofia podem andar de mãos dadas. E não só podem como devem. Religião sem
filosofia é um grande perigo para a nossa sociedade, e é sobre isso que quero
tratar nesse texto.
Quando
os alunos chegam ao terceiro ano do ensino médio, em algum momento introduzo os
assuntos “Filosofia cristã” e “Religião”, e é o momento onde faço a pergunta
onde muitos alunos temem: Deus existe? Nesse momento conversamos sobre
pensamentos filosóficos que vem refutar a existência de Deus, como também
pensamentos que vem comprovar que Deus existe.
Mas
qual o motivo de muitos alunos sentirem um incômodo com tal pergunta? Costumo dizer
que, se você é cristão, mas teme se questionar sobre Deus, deve ser porque sua
fé ainda é fraca, e é fraca porque você nunca se questionou sobre a existência
de Deus.
Então,
mais importante do que saber os pensamentos dos filósofos de cada período da
história, é ter uma atitude filosófica, que consiste em se admirar, se
impressionar, questionar e querer saber e conhecer mais. Ter uma atitude
filosófica faz com que você reduza a margem de erros nas suas escolhas. Ter uma
atitude filosófica fortalece suas crenças, e desfaz pensamentos errados que
outrora você acreditava ser verdade. Justamente por essa razão que todo
religioso deve, por obrigação, ter uma atitude filosófica, pela única premissa
de que NEM TODA LEI É MORAL.
O
que isso significa? Que nem toda lei que existe é certa, é moral, é ética. E
isso se aplica tanto nas leis civil, quanto nas leis criadas pelas igrejas.
Vamos pegar exemplos? Até algumas décadas atrás, aqui no Brasil, as mulheres só
tinham direito a trabalhar, comprar e etc, se tivessem permissão dos pais ou
marido. Alguns séculos atrás, a escravidão era permitida legalmente. Hoje em
dia tem algumas igrejas que proíbem seus membros de cortar o cabelo, ou de
participar de festas; sendo que a bíblia não recrimina a bebida, mas o seu
excesso.
Diante
disso, percebemos que devemos, constantemente, estar nos questionando sobre
aquilo que acreditamos, aquilo que a igreja nos ensina como verdade, para que
não possamos estar defendendo e apoiando algo que, na verdade, é completamente
errado.
Quer
exemplos dentro da Bíblia?
Vamos
usar um exemplo clássico: o apedrejamento da prostituta. Jesus sabia que, pela
lei, aquela mulher deveria ser morta por apedrejamento, mas sabia que essa lei
não era moral. Conseguiu, por meio da persuasão, mostrar o erro para os
acusadores, sem precisar ir contra a lei.
A
igreja católica, ao qual pertenço, por muito tempo cometeu erros gravíssimos, e
esses mesmos erros estamos presenciando em uma parcela considerável das igrejas
protestantes. Se afastam do pensamento crítico, aceitam qualquer verdade como
inquestionável, e isso faz com que deturpam o pensamento cristão e comecem a defender
coisas totalmente contrárias ao cristianismo.
Diante
desse período cristão caótico ao qual estamos tentando superar, espero que as
pessoas percebam os erros que cometeram e voltem suas igrejas novamente ao seu
verdadeiro caminho. Só nos resta rezar e pedir para que Deus nos ouça e liberte
nossos irmãos dessa caverna ao qual insistem em permanecer acorrentados.