sexta-feira, 25 de novembro de 2022

Um segundo de felicidade.

    

Sua cabeça estava pesada, e seu coração pulsava forte, espalhando pelo seu corpo sangue e angustia. Apoiou uma de suas mãos na parede, desejando que toda a tensão do seu corpo passasse pelo seu braço e se dissipasse nas madeiras da parede. Na sua frente a porta ainda estava fechada, mas já se ouvia a movimentação dentro da casa. Alguém vinha abrir a porta.

Ela surgiu em sua frente, só de toalha. Os ombros dela caíram, demostrando sinal de desaprovação pela presença dele. “Desculpa, só agora li sua mensagem pedindo para eu não vir”. Ele disse a verdade, não havia lido antes de sair de casa, mas já sabia qual seria o conteúdo dela, e não abriu a mensagem para fingir uma consciência limpa quando ela atendesse a porta.

            Ela estava chateada. Chateada com ele. Chateada com os problemas. Chateada com a vida. Virou as costas para o homem e voltou para a cozinha. Ele, sem reação, ficou lá por um tempo, vendo o andar ininterrupto daquela mulher para todos os lugares, reclamando e perdendo a paciência com pequenas coisas. Ele sabia que todo aquele estresse tinha motivo, e que o limite dela já havia sido derramado.

            “Posso entrar?”, perguntou. Ela consentiu com um sim seco, quase inaudível para ele. Caminhou devagar. Estaria com medo? Não, não. Nosso homem estava preocupado, e procurando em sua mente que palavras usaria para acalmar o coração dela, e o seu. Grande parte dos problemas que ela estava passando ele tinha ciência que havia sua parcela de culpa, e por isso estava lá. Por amor e por redenção.

            Sentou à mesa e esperou ela. Não conseguiu não notar o seu corpo esculpido por aquela toalha, e se sentiu mal por isso. Não era o momento para deseja-la, apesar de saber que a beleza dela é como um canto de sereia. “Eu não acredito que acabou a água!”, ouviu-a reclamando. Olhou para ela e viu a mulher que ele amava desabando por dentro. “Vou ter que ir pra casa da mamãe. Vou me trocar”.

            Dentro de si ele agradeceu por ela ter colocado uma roupa, pois seria difícil resistir a ela; apesar de já ter conseguido em um momento de raiva. Ela sentou do lado oposto a ele e ficaram um tempo ali. Ele a olhando, e ela desviando o olhar. Ela não conseguia olhar nos olhos dele, por toda merda que estava acontecendo. Trocaram algumas palavras, falaram dos problemas que ela estava passando. Por um segundo ela se rendeu, e seus olhos se encontraram. Aquele segundo parecia eterno para nosso homem. Ela sorriu, algo que o fez perceber que raramente havia feito para ele. E, por um forte impulso, levou a sua mão até a dela, que resistiu por alguns segundos, mas acabou segurando. Eles ficaram lá... sentindo o toque de suas mãos, olhando a alma um do outro e acreditando, mesmo que naquele curto espaço de tempo na vida dos dois, que tudo iria dar certo, e que eles poderiam ser felizes.

            É uma pena que a vida tende a ser cruel.

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