Sua cabeça estava pesada, e seu coração pulsava
forte, espalhando pelo seu corpo sangue e angustia. Apoiou uma de suas mãos na
parede, desejando que toda a tensão do seu corpo passasse pelo seu braço e se
dissipasse nas madeiras da parede. Na sua frente a porta ainda estava fechada,
mas já se ouvia a movimentação dentro da casa. Alguém vinha abrir a porta.
Ela surgiu em sua frente, só de toalha. Os ombros
dela caíram, demostrando sinal de desaprovação pela presença dele. “Desculpa,
só agora li sua mensagem pedindo para eu não vir”. Ele disse a verdade, não
havia lido antes de sair de casa, mas já sabia qual seria o conteúdo dela, e não
abriu a mensagem para fingir uma consciência limpa quando ela atendesse a
porta.
Ela estava chateada. Chateada com
ele. Chateada com os problemas. Chateada com a vida. Virou as costas para o
homem e voltou para a cozinha. Ele, sem reação, ficou lá por um tempo, vendo o
andar ininterrupto daquela mulher para todos os lugares, reclamando e perdendo
a paciência com pequenas coisas. Ele sabia que todo aquele estresse tinha
motivo, e que o limite dela já havia sido derramado.
“Posso entrar?”, perguntou. Ela consentiu
com um sim seco, quase inaudível para ele. Caminhou devagar. Estaria com medo?
Não, não. Nosso homem estava preocupado, e procurando em sua mente que palavras
usaria para acalmar o coração dela, e o seu. Grande parte dos problemas que ela
estava passando ele tinha ciência que havia sua parcela de culpa, e por isso estava
lá. Por amor e por redenção.
Sentou à mesa e esperou ela. Não
conseguiu não notar o seu corpo esculpido por aquela toalha, e se sentiu mal
por isso. Não era o momento para deseja-la, apesar de saber que a beleza dela é
como um canto de sereia. “Eu não acredito que acabou a água!”, ouviu-a
reclamando. Olhou para ela e viu a mulher que ele amava desabando por dentro. “Vou
ter que ir pra casa da mamãe. Vou me trocar”.
Dentro de si ele agradeceu por ela
ter colocado uma roupa, pois seria difícil resistir a ela; apesar de já ter
conseguido em um momento de raiva. Ela sentou do lado oposto a ele e ficaram um
tempo ali. Ele a olhando, e ela desviando o olhar. Ela não conseguia olhar nos olhos
dele, por toda merda que estava acontecendo. Trocaram algumas palavras, falaram
dos problemas que ela estava passando. Por um segundo ela se rendeu, e seus
olhos se encontraram. Aquele segundo parecia eterno para nosso homem. Ela
sorriu, algo que o fez perceber que raramente havia feito para ele. E, por um
forte impulso, levou a sua mão até a dela, que resistiu por alguns segundos,
mas acabou segurando. Eles ficaram lá... sentindo o toque de suas mãos, olhando
a alma um do outro e acreditando, mesmo que naquele curto espaço de tempo na
vida dos dois, que tudo iria dar certo, e que eles poderiam ser felizes.
É uma pena que a vida tende a ser
cruel.