domingo, 31 de julho de 2016

Briga de Idosos

Todas as pessoas que estavam passando por ali pararam para ver a discussão, que já tinha virado combate físico. Dois homens de idade brigavam dentro de uma arena feita com corpos dos curiosos. Alguns filmavam, outros assistiam torcendo por um dos lutadores, e ainda havia aqueles que queriam que alguém desse um fim na luta; mas não tinham coragem de separar os homens.

O homem de barba branca conseguiu acertar um cruzado de direita na boca do velhinho careca, jogando a dentadura dele, que caiu em cima de um sorvete de uma criança. O careca, furioso, levantou a perna para lhe dar um golpe no peito, mas seu reumatismo só o deixou acertar o joelho de seu adversário.

O homem de barba foi mancando até o seu inimigo, dando vários socos que só acertavam o ar. O careca se esquivava, mesmo com os dois metros de distancia que os separavam. O carequinha, vendo uma brecha na defesa do barbudo, correu para cima dele, agarrando seu tórax e dando vários socos na costela do adversário.

O barbudo aproveitou e começou a socar a cabeça do carequinha, que logo o soltou e caiu de bunda no chão, tonto pelas pancadas. A torcida comemorou a provável vitória do desconhecido.

O carequinha ficou olhando o vencedor comemorar, sob os gritos dos curiosos que lhes haviam rodeado. O barbudo se aproximou, sorrindo, apontou o dedo na cara do perdedor e gritou:

- E nunca mais tome o meu Toddynho.

E saiu, abrindo espaço entre as pessoas que o observava emudecidas.

Renan Medeiros
Breves, 31 de julho de 2016

sexta-feira, 29 de julho de 2016

Entrega

Aquele cheiro de moça virgem,
E aquela pele intocada.
Fui o primeiro homem
Que aquela vagina desbravara.

Rompi com a pele de sua mocidade,
Tornando-lhe uma mulher, enfim.
Os anjos ouviram seus gemidos,
Quando você se entregou para mim.

O melhor não foi suas pernas abertas,
Nem o gosto de sua entrega à paixão.
Mas acordar no dia seguinte e lhe ver ali,
Adormecida e satisfeita no meu colchão.

Renan Medeiros
Breves, 26 de julho de 2016

Cansou

Ele cansou de esperar. Seus olhos já não brilham mais quando a vê, mas enchem-se de tristeza ao se lembrar de tanta magoa que ela já lhe fez. Esperou... Esperou por um amor prometido que se escondeu nas profundezas de uma existência que se encarcerou por muros de medos e lamentações. Ele procurou certezas, mas só encontrou duvidas. Ele queria uma mulher com os pés no chão, mas encontrou somente pés atolados em incertezas. A fadiga da espera pesou, e resolveu abandonar a imortalidade da esperança. Agora só lhe resta vaguear pelo finito tempo de sua breve existência nesse plano.

Renan Medeiros
Confissões Testosterônicas
Breves, 29 de julho de 2016

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Meu Amigo Virou Escritor, e Agora?!

Primeiramente, gostaria de lhe falar que seu amigo não virou escritor, de uma hora pra outra, mas ele já era escritor há muito tempo. Você nunca notou as horas que ele passava trancado no quarto, escrevendo suas historias e versos? Se não, entendo o susto que levou quando ele veio lhe mostrar o seu primeiro livro publicado.

As coisas mudarão drasticamente, pois agora conheces o segredo artístico do seu amigo. Lamento lhe informar, mas as conversas que vocês tinham, e terão, para ele não eram/é/serão uma simples conversas. Você acreditava que estava jogando conversa fora com um amigo, mas ele estava se nutrindo do seu ser, da sua personalidade, dos seus conhecimentos e crenças, para poder dar vida a muitos personagens que ele criou e criará. Cada olhar do seu amigo será uma navalha penetrando a sua carne, querendo desnudar seu verdadeiro eu.

Calma! Também não precisa sair correndo. Ter um amigo escritor têm lá suas vantagens. Você agora tem um amigo ótimo para ouvir seus problemas, mesmo que ele vá se aproveitar disso. Um amigo que postara mensagens lindas no Facebook no seu aniversário, lhe dará poemas de amor para você enviar para as suas paqueras e lhe convidará para os coquetéis/sarais//eventos que ele for convidado.

Mas você também terá deveres a cumprir, como ler suas obras antecipadas para lhe fazer uma analise critica e suportar seu péssimo humor oriundo de uma constipação mental. Ser escritor é ser anormal, e os amigos destes devem ser tolerantes para com as suas loucuras. O escritor não vê o mundo como os outros, e precisam de pessoas que entendam isso do lado delas.

Por fim, há algo que você jamais deve esquecer. Nunca, em hipótese alguma, esqueça-se de lhe desejar um feliz dia do escritor. Para quem não sabe é hoje, dia 25 de julho. Parabeniza-lo nesse dia o fará esquecer de todo os textos de qualidade duvidosa que ele já escrevera, e dará um tapa positivo na autoestima dele.

Por falar nisso, aguardo minhas congratulações.

Abraços.

terça-feira, 12 de julho de 2016

Um Último Texto

Uma sensação que transforma qualquer homem em esterco. Ele pode ser o mais machista e mulherengo que for, mas quando há sentimento verdadeiro renegado por uma mulher ele se contrai de volta em um útero imaginário e contempla o suicídio lento e gradual de seu ego com sua autoestima.

Deveria ser crime envolver alguém em um circulo de emoções e sentimentos bons e depois, simplesmente, coletar tudo isso e arremessar em um abismo de tristeza. Por que há quem faça isso com alguém? Desconheço. Talvez nunca vá entender o porquê de ela me banhar com sua doçura e, sem nem ao menos me preparar, salpicar minha paixão com um desprezo frio.

“Qualquer mulher amaria namorar você”, foi o que ela me disse. “Menos você”, pensei. De tantas, foi ela que eu quis. E de todas, foi ela que me encarcerou dentro de um mar de questionamentos sobre o porquê de ter começado a me encher de esperanças e, depois, rompido este cordão umbilical que estava começando a se formar entre a gente.

Tenho uma carcaça calejada de “foras” na vida e da vida, e isso faz parte dessa pequena trajetória que travamos nesse plano da existência. Talvez por isso não mais me encarcere em sentimentos vis de dor, e continue a sorrir e viver como se nada tivesse acontecido. O mundo lá fora não tem culpa de nossas decepções, as pessoas não tem culpa de alguém ter virado a cara para nossos sentimentos. Acho essa uma lição valida, para todos, por mais que seja difícil.

Não é ser hipócrita, ou falso, ou alheio aos nossos sentimentos internos. É simplesmente não nos apegarmos a eles. Deixarmos, sim, eles lá dentro, pulsando, consumindo nossas energias. Mas sem abraçar-lhes e dizer que o amamos, e sair por ai danificando a vida alheia com estes sentimentos que nem mesmo nós queremos para si. O certo é deixar ele incógnito, até que o alimento acabe e ele morra desnutrido.

Passarei um tempo, dois meses (talvez menos) sem escrever. Irei debruçar-me sobre a literatura da arte de cuidar para fazer um concurso, mas antes disso eu tinha que escrever esse ultimo texto. Então, não é O ultimo texto, mas um ultimo texto. Um texto necessário para expurgar essa historia da minha vida e poder continuar a devanear em tantas outras áreas que amo escrever.

Talvez, eu apareça de repente nessa curta trajetória de estudos para vos relatar algo. Sabe como é a cabeça de um escritor, não para. E quem sabe esses gritos eloquentes da minha mente não seja a linha tênue que me segura entre a sanidade e a loucura.

Abraços!

sábado, 9 de julho de 2016

Assombrações Existem?

Quando criança tinha medo do escuro. Um medo comum, que com o tempo foi superado. Mas na época da minha infância eu tinha pavor do escuro. Hoje sei que meu medo não era do escuro. Ninguém tem medo do escuro. As pessoas temem o que se esgueira na escuridão. Tememos aquilo que a escuridão pode esconder. Hoje sei que não existe nada que a escuridão esconda, além daquilo que vemos na claridade. Bom, era o que acreditava. Aliás, ainda acredito. Tenho um ceticismo forte, que me faz descrer em tantas coisas que ouço... e vejo. Sim, já tive minhas experiências inexplicáveis. Com o tempo o medo do escuro – ou do que o escuro possa esconder – passou, e o ceticismo aumentou. Até que um dia alguma força diferente resolveu me mostrar que não estava ausente. Era noite do Dia dos Finados, estava na cozinha acessando as redes sociais. Quando a madrugada chegou, resolvi ir para o meu quarto dormir. Na época a televisão era ligada a um nobreak, que só ligava se apertasse com certa força por alguns segundos. O cansaço era enorme, e me joguei na cama. Segundos se passaram quando escutei o barulho do nobreak sendo ligado, e em seguida o quarto sendo iluminado pela luz da televisão. Levantei, desliguei e voltei a deitar, no escuro; pois já dormia no escuro. Deitei como se nada tivesse acontecido, como se não estivesse acompanhado naquele quarto. Deitei e dormir. Aquilo não parou. Os dias seguintes passaram com panelas batendo, rádio sendo ligado sozinho, etc. Continuava agindo naturalmente, como se tudo aquilo tivesse uma explicação natural – e não tinha. Até que, da mesma forma que veio, se foi. E nunca mais tive nenhuma dessas experiências. Não sei se cansaram de brincar com alguém que não deu atenção, ou se realmente tudo tinha uma explicação que até hoje não encontrei. Só sei que aconteceu, e não acontece mais. Hoje continuo dormindo no escuro, mas com o restante das luzes da casa acessas. Não pelo medo de ter que ir ao banheiro no escuro e encontrar um espírito, mas o medo de algum ladrão resolver se aventurar e invadir a minha casa. Assombrações existem? Não sei. Mas uma coisa eu tenho certeza, os demônios personificados em gente estão causando um caos na pequena cidade de Breves.
Que Deus nos proteja.

sexta-feira, 8 de julho de 2016

A Menina com a Caneca de Café

Estava naqueles dias onde os olhos vagueiam pela vida em busca de algo, sem necessariamente saber o que é este algo que tanto o coração de escritor procura. Um objeto, um acontecimento, uma cena inusitada, o voo de um pássaro, ou o simples caminhar de um casal de namorados. Sem compromissos ou imposições, um simples passeio ocular em torno de tudo, mas sem se atentar a nada. Nutrindo-me com tudo em minha volta, cada espetáculo particular da vida alheia registradas em fotografias cerebrais de um simples homem com um lápis e papel em mãos. Mas nada, ainda, havia me retirado da zona de conforto a ponto de abolir meu passeio visual em inquietações literárias e por minhas mãos em uma alergia enérgica capaz de me fazer escrever. Nada, até vê-la. Uma simples mulher, ao longe, sentada em uma cadeira de plástico, debruçado sobre a mesa e com uma caneca com café em mãos. Seus cabelos negros debruçavam, levemente, sobre o olho direito, enquanto lia algum livro que estava repousando sobre aquela mesa. A caneca de café extinguia seu doce cheiro em leves fumaças esbranquiçadas, que saiam dançando aos braços do galanteador vento de julho. Seus olhos faziam o movimento de ir e vir, acompanhando as palavras do livro, que se organizavam em linhas e parágrafos e formavam uma historia capaz de prender a atenção daquela doce garota. Mas, no fundo, algo não estava certo. Seu olhar, mesmo atendo ao universo escrito por um autor que desconheço, se perdia. Era segundos, mas perceptíveis. Como se, em certos momentos, ela fosse resgatada à realidade por alguma acusação de seu cérebro, ou pelas labaredas de lembranças pelas quais ela queria esquecer. Um café e um livro, sendo utilizados para resgatar um pouco da sanidade daquela moça, que se perdia em algum problema enigmático para mim. Mas nem a cafeína, nem as brincadeiras literárias daquele livro, eram capazes de tirar aquela jovem de suas angustias. Ela levantou o olhar, fitou o céu como se desejasse ser levada por alguma força desconhecida, e suspirou. Fechou o livro, bebeu o ultimo gole no café, deixou o dinheiro 2016 na mesa e se retirou, desfilando sua beleza pelas calçadas da praça; sem ser notada por ninguém, exceto por um escritor que talvez ela nunca tenha ouvido falar (e quem sabe nunca ouvirá).

quarta-feira, 6 de julho de 2016

Noite de Descobertas

"Ela foi andando na frente, com um olhar safado e aquele babydool que deixa a poupa da bunda a mostra. Soube andar na medida certa; nem tão devagar a ponto que eu pudesse ver todos os detalhes, nem tão rápido a ponto de não me enlouquecer de tesão. Sumiu atrás da cortina que dá acesso ao quarto, me deixando com o desejo de desbravar aquela escuridão em busca do eldorado entre suas pernas. E como bom aventureiro, não pude negar o convite tentador. Foi uma longa noite de descobertas"

Contratos quebrados.

Absorto, ele fixava sua visão no teto enquanto sentia os delicados dedos dela tateando seu tórax, deleitando-se com os resquícios de prazer ...