Todas as pessoas que estavam passando por ali pararam para ver a discussão, que já tinha virado combate físico. Dois homens de idade brigavam dentro de uma arena feita com corpos dos curiosos. Alguns filmavam, outros assistiam torcendo por um dos lutadores, e ainda havia aqueles que queriam que alguém desse um fim na luta; mas não tinham coragem de separar os homens.
O homem de barba branca conseguiu acertar um cruzado de direita na boca do velhinho careca, jogando a dentadura dele, que caiu em cima de um sorvete de uma criança. O careca, furioso, levantou a perna para lhe dar um golpe no peito, mas seu reumatismo só o deixou acertar o joelho de seu adversário.
O homem de barba foi mancando até o seu inimigo, dando vários socos que só acertavam o ar. O careca se esquivava, mesmo com os dois metros de distancia que os separavam. O carequinha, vendo uma brecha na defesa do barbudo, correu para cima dele, agarrando seu tórax e dando vários socos na costela do adversário.
O barbudo aproveitou e começou a socar a cabeça do carequinha, que logo o soltou e caiu de bunda no chão, tonto pelas pancadas. A torcida comemorou a provável vitória do desconhecido.
O carequinha ficou olhando o vencedor comemorar, sob os gritos dos curiosos que lhes haviam rodeado. O barbudo se aproximou, sorrindo, apontou o dedo na cara do perdedor e gritou:
- E nunca mais tome o meu Toddynho.
E saiu, abrindo espaço entre as pessoas que o observava emudecidas.
Renan Medeiros
Breves, 31 de julho de 2016