Sentei em uma poltrona que já me conhece o suficiente para adaptar suas almofadas de acordo com os devaneios e reflexões que tenho como escritor. Ela é confortável, e abraça-me com a sua singularidade e encanto, assim como as imagens de carnaval abraçam minha retina, inundando minhas madrugadas de questionamentos e, no geral, quase sem nenhuma resposta.
Eu vi.
Vi o homem solteiro estampar o seu melhor sorriso, com um bom gingado e olhar como adorno, para encantar a visão e instigar o interesse das mulheres que adentram ao mundo da devassidão e boemia chamado ‘carnaval’. É um jogo de risco, que muitas vezes riscam o chão da Avenida rio Branco com dobradas de rostos, para escapar das investidas do solteiro. Outras vezes o risco fica na face do solteiro, marcas de batom de mais um número para a sua conquista quantitativa.
Encontrei o casal de namorado que mergulham nos hormônios do momento e se esquecem dos compromissos implícitos da relação. Adentram caminhos diferentes para se jogarem em braços de homens e mulheres estranhos, que desconhecem a pessoa ficante; vendo somente um pedaço de carne, embalado em um abadá, sacudindo no açougue de um bloco de rua. Será Friboi?
Achei os casados, nadando contra a maré carnavalesca e mostrando que, sim, há como comemorar o carnaval como casal. Vi namorados que beijaram o respeito mutuo e pularam na folia sem chafurdar na lama do desrespeito. Lindas visões que abrilhantaram esses dias de comemoração.
Infelizmente, não superaram as imagens das traições e do abuso do álcool. A juventude se jogando de cabeça na água rasa do alcoolismo e desvairando nas ondas da libido, esquecendo-se do compromisso que aceitou ao pedir/aceitar determinado relacionamento dito sério.
Entristeço-me ao saber que a imagem da violência e criminalidade pediram passagem para o arco da apoteose. Seu abre alas chegou arrasando o carnaval de muitos foliões que estavam lá, somente para curtir. Ainda vejo, ao fechar o olho, o adolescente algemado, sendo levado para as autoridades, enquanto a mulher assaltada lhe batia com a sua sapatilha.
Imagens que surgem na cabeça, que tento diluir no esquecimento para dar espaço aos sorrisos felizes e olhos brilhantes das crianças. Tantas que foram, muitos nos colos dos pais, fantasiados dos mais variados personagens, ensinando a tantos adultos, velha guarda da folia, o verdadeiro sentido de comemorarmos esse feriado nacional: a paz, o amor, a liberdade e o encantamento.
Pergunto-me: o que tantas imagens que presenciei no carnaval têm a me ensinar? Aprendi que muitas pessoas possuem uma visão diferente do carnaval. Uns aproveitam esta comemoração como desculpa para mergulhar no álcool, outros para aproveitar a baixa da guarda dos homens e mulheres e conseguirem um amor de carnaval. Alguns acham que esse período é ótimo para se conseguir dinheiro fácil, enquanto alguns aproveitam a oportunidade para levar seus filhos para uma festa divina.
Carnaval é amor nacional, mesmo que muitos o critiquem. É feriado, tempo de comemorar seja lá o que for. Período de festejar ou relaxar. Afinal, se até o amor tira férias nesses dias, por que hei de perder a oportunidade?
E que venha mais carnavais!
Renan Medeiros, o Coruja
Canto do Coruja
renanmedeiro_costa@yahoo.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário