terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Na bad

“Nunca imaginei vê-la assim, tão abatida. Uma mulher que outrora transbordava felicidade e alegria, agora transitava em estradas angustiantes e depressivas. Um caminhar pausado, automático, sem energia. Era uma ave de belo canto, que teve seu cantarolar poético decepado pelos acasos cruéis da vida a dois. “O que vou fazer de minha vida agora?”, ela me perguntou.  Seu rosto salientava a pulsação dos pensamentos negativos e perdidos em sua mente. Que cena angustiante. Fugia-me o raciocínio a ver tão bela criatura sofrendo pelo abandono cruel de um homem que nunca a amou. “Ele me trocou por outra”, completava. E eu pensava nessas palavras... “Me trocou...” “Me trocou...” Ditas como se ela fosse um mero objeto, descartado por alguém por não mais lhe querer. Deixado de lado após o grande e intenso uso, para poder dar espaço para um novo modelo; mais “atraente”, “novo”, “da moda”. Que loucura toda é essa? O pior de tudo é ver, através de seu olhar, a plena certeza de que ela acredita de sido usada. E foi. Seu corpo foi empregado para sanar os desejos sexuais de um homem, e sua inteligência e força foram focados para ajudá-lo a crescer profissionalmente. E depois de usá-la como escada, ele a descartou. Não há como escapar desses termos “trocar” e “descartar”, que “coisificam” a mulher, pois foi isso mesmo que ocorreu. Ele a usou. A olhava somente como um objeto, que com o uso caiu em desuso e procurou um novo brinquedo para se divertir. Ela me perguntava o que fazer, e não podia dizer outra coisa: Volte a ser mulher. Sim, isso mesmo. Seja o que você nasceu para ser: MULHER. Estude, trabalhe, cuide de sua saúde, de seu corpo, de sua mente e de sua alma. Sempre achei incrível a capacidade da mulher de se recuperar, remodelar, reestruturar. Sim, elas se afundam em uma depressão, se acorrentam na “bad”, se perdem na angustia. Mas elas retornam, mais fortes, maduras e belas. E esta mulher é mais uma dessas. Que mesmo com a incompetência masculina que lhe envolveu em um roteiro de desprezo, ela retornará com a certeza de que se libertou de um cárcere invisível de um amor ilusório. Só lamento que muitas ainda vivem dentro deste presidio emocional. Mas, um caso de cada vez”

Renan Medeiros, o Coruja
Confissões Testosterônicas
Breves, 16 de fevereiro de 2016

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