quarta-feira, 24 de abril de 2019

Recursos humanos


A cidade engole a minha felicidade, escarrando o que há de pior em cima das minhas costas. Em cada beco escuro procuro algo para preencher esse vazio, essa angustia, esse desejo pelo fim. Uma bebida, uma prostituta, um baseado, qualquer coisa que, nem que seja por um segundo, me permita esquecer. Esquecer... Esquecer essa loucura que se tornou a vida, esquecer esses concretos que nos rodeiam, esquecer esse celeiro para insanidades. Uma fábrica de desajustados, nadando na miséria humana como se fosse um balsamo para as dores internas, sem nem perceber que essas águas são a fonte de todo nosso sofrimento. Nos alimentamos de ansiolíticos enquanto escalamos os degraus dos corpos de suicidas para alcançar um sucesso ilusório, orando para que nossa existência não seja esquecida e, logo em seguida, sermos trocados por mais um curriculum vitae em cima de uma mesa empoeirada de uma sala qualquer, afinal, não somos mais humanos, somos somente um recurso simplesmente descartável, como quase tudo que nos rodeia.


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