quinta-feira, 16 de junho de 2016

Uma Gota do Passado

Não sei ao certo a idade, mas eu era uma criança. Me destacava das outras, não por inteligência, ou força, ou tamanho, ou agilidade e destreza nos esportes – era tão comum quanto os outros. Destacava-me pelo fato de ser o mais antissocial da sala. De poucas palavras e muitos olhares, possuía um circulo de amizade que se resumia a uma pessoa; aumentava se eu levasse em conta meus amigos imaginários.

Acontece que era uma criança com um desenvolvimento normal, e logo a puberdade chegaria, os hormônios invadiriam meu corpo e eu iria começar a ver, sentir e desejar coisas que ainda passavam longe de meus pensamentos. E ele chegou, com força.

Foi na quinta serie que eu conheci o forte desejo pelo corpo feminino, que comecei a adentrar nas curvas insinuadas da delicadeza deste ser divino. A partir dai meu desenvolvimento abandonou o barco da normalidade, e mergulhou na tortuosa tempestade da confusão da adolescência.

Poderia continuar tendo um avanço emocional, físico e psíquico retilíneo, se eu não conhecesse uma doce garota que me encantou. Sim, havia garotas na sala de beleza mais gritante, algumas já beirando o corpo de mulher, e outras mais “pra frente” com os outros rapazes, sendo mais fácil uma conquista masculina. Mas foi aquela delicadeza angelical, e uma maturidade singular, que me fez perder o controle de minha existência.

Apaixonei-me por ela.

Mas o que acontece quando um pequeno rapaz, solitário, sem o desenvolvimento profundo sobre as relações humanas e de poucas palavras acaba se apaixonando por uma das garotas mais belas da sala? Acertou quem respondeu: um trauma.

Nunca consegui dizer-lhe o quanto a amava (seria amor?), só insinuava o desejo. Como meu conhecimento era acima da média, acabava sendo convidado pelo grupo dela a fazer os trabalhos em equipe. Ter ela por perto às vezes me desconcentrava e desconcertava, mas sempre desejava que ela ficasse ali, ao meu lado, para sempre.

Foram quatro anos estudando com ela. Com o decorrer dos anos letivos, mais pessoas acabavam desconfiando, e sabendo, desse sentimento. Não tive olhos para mais nenhuma garota, o que decorreu minha completa falta de habilidade na aproximação com mulher; pois como não me interessavam, não me aproximava e não me desenvolvia.

Ia nas festas da escola (era o Santo Agostinho), inclusive em “haves” (ou seria raves?), com a decisão de me aproximar e, enfim, revelar o que sentia. Nunca chegava a coragem, nunca aproveitava a festa, sempre me sentia um panaca.

Nos formamos, e nos separamos. Seguimos estradas distintas, e infinitamente distantes. Em raras ocasiões eu a vejo, e sinto que aquele sentimento, bem no fundo do coração, ainda existe. Sentimento bom, admito. Lembranças felizes, acima de tudo. Talvez tenha sido melhor assim, pois foi na solidão que brotou esta pobre mente conturbada por historias. Virei escritor.

E não é que a loucura é palco da arte?!

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