Ela estava deitada em seu ombro, então conseguia sentir sua respiração, o cheiro do cabelo, o batimento do coração que ainda estava acelerado. Nenhuma palavra saia de sua boca, mas ele sentia, mesmo sem a olhar, que havia sentimentos crescendo dentro dela, sentimentos os quais ele não queria.
Havia dito, desde que se conheceram, que não queria relações. Nada de paixão, nada de amor, nada de romance. Somente duas pessoas proporcionando o mais profundo e carnal prazer um ao outro. Sem amarras, sem cobranças, sem preocupações, sem medos. Tudo limpo, tudo claro, tudo transparente. Sem enganações, trapaças ou joguinhos.
Mas ele sabia, mesmo que palavras não tenham sido ditas, que ela estava se apaixonando. E isso o angustiava, pois, mesmo sabendo que em nenhum momento a enganara, mesmo sabendo que tinha sido sincero, mesmo sabendo que ela tinha aceito as condições, ainda tinha uma sensação de que algo estava errado, de que a estava enganando, de que tudo aquilo era imoral, de que tudo iria dar ruim no fim. Haveria tristeza, choro, decepções.
E
aquele momento, onde era pra ser o encontro de dois corpos por puro prazer,
acabara se tornando um momento de prostração.
O
que foi feito nunca mais poderá ser desfeito.
Renan Medeiros
